sábado, 27 de fevereiro de 2021

 POETAS DE PARABÉNS

RUY BELO





E tudo era possível

Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer


Ruy Belo





        Ruy Belo é um consagrado poeta português, natural de Rio Maior,
onde nasceu, em 27 de fevereiro de 1933, tendo falecido, em Queluz,
em 8 de agosto de 1978.
        Esteve incompatibilizado quer com o regime de ditadura quer com o
regime democrático.
        Foi diretor literário da Editorial Aster e chefe de redação da revista
Rumo.
        Considerado um dos maiores poetas portugueses da segunda
metade do séc. XX, foi condecorado, a título póstumo, com o grau
de Grande-Oficial da Ordem de Sant´iago da Espada.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

 POEMAS POR TEMAS



ALEGRIA


Era prazer? Era.
Mas era mais que prazer. Era alegria.
A diferença? O prazer só existe no momento.
A alegria é aquilo que existe só pela lembrança.
O prazer é único, não se repete.
Aquele que foi, já foi. Outro será outro.
Mas a alegria se repete sempre.
Basta lembrar.

Rubem Alves

                                                                





      Rubem Alves é, juntamente com Paulo Freire, um dos mais afamados
pedagogos brasileiros.
      Enquanto escritor, também se destacou no domínio da poesia.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

 



Amanhecer

Tinha chegado a hora
Em que se despede a noite,
Em que vai a noite embora
Sem saber onde se acoite,
Ferida pela aurora,
Que pouco a pouco reluz
Irradiante de luz.

Emerge a madrugada
Sepultando a escuridão;
Vem tão leve e tão pura,
Tão fresca, tão orvalhada
Que o dia é uma aventura
Pronto a cumprir a missão,
Em que a estrela matutina,
Numa constante procura,
Com sua luz ilumina
Os caminhos de feição. 

            Juvenal Nunes



terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

 POESIA PALACIANA



Cantiga de D. Francisco de Portugal

Se alguém deseja prazer
Viva em-no esperar,
Que tudo o mais há de achar
Maneira de o perder!
Diga-me : quem alcançou
Bem algum que desejasse,
Se nunca tanto folgou
Que d’isso se contentasse?
E pois se acaba o prazer
Que se espera, em se alcançar,
Quem esperar de o ter,
Não ouse de o tomar!

D. Francisco de Portugal







         Poeta palaciano, D. Francisco de Portugal desempenhou o cargo de
vedor da fazenda, na corte de D. Manuel I e de D. João III. Fez carreira militar
em África.
        Os seus textos foram compilados por Garcia de Resende, que os
publicou, em 1516, no Cancioneiro Geral.
        Na impossibilidade de publicar um retrato do autor mostra-se o seu
brasão de armas.