sábado, 30 de novembro de 2019


                                 





                        
INSTRUMENTOS MUSICAIS 

A GAITA

Este nome refere-se à gaita de foles.
Desde os gregos que existe documentação acerca da gaita de foles. Terá sido esse povo que a trouxe do Egito, tendo-se espalhado, depois, pelo império romano.
Tida inicialmente como instrumento pastoril, entrou nas cortes reais e chegou à organização militar.
É um instrumento de sopro.



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sexta-feira, 29 de novembro de 2019


POETAS DE PARABÉNS

HERBERTO HÉLDER


Se te apreendessem minhas mãos, forma do vento
na cevada pura, de ti viriam cheias minhas mãos sem nada.
Se uma vida dormisses em minha espuma,
que frescura indecisa ficaria no meu sorriso?
- No entanto, és tu que te moverás na matéria
da minha boca, e serás uma árvore
dormindo e acordando onde existe o meu sangue.


Herberto Hélder nasceu no Funchal, em 23 de novembro de 1930.
É considerado o maior poeta português da segunda metade do séc. XX.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019


O Cisne do Vouga


A constante humanização da paisagem, com o desbravar contínuo de espaços à natureza pertencentes, levou a que o homem se preocupasse com a criação de nichos ou santuários, que respeitassem a preservação das espécies vegetais e animais. Na sequência dessa situação, a observação de aves, no seu meio natural, constituiu-se numa forma de turismo da natureza, produto turístico de estratégia, enquadrado em atividades de lazer.
A exploração destas atividades é de tal forma importante que atrai a Portugal, anualmente, milhares de turistas. Pode avaliar-se a importância desta atividade se considerarmos, por exemplo, que Portugal é o único país da Europa onde é possível avistar-se uma águia imperial ou uma pega azul.
O avistamento de que aqui pretendo falar, contudo, é do Cisne do Vouga. O cisne não é autóctone da avifauna portuguesa e a sua ocorrência, em Portugal, é extremamente rara, mas este de que falo foi extremamente popular e conceituado na sua época e entre os seus pares, daí o epíteto que serve de título a este texto. Os seus voos não se realizavam em campo aberto, antes em sessões artísticas em tertúlias, salões e academias.
De quem se trata pois? Falo do poeta Francisco Joaquim Bingre, que viveu entre os sécs. XVIII e XIX. Nasceu na povoação de Canelas, situada na margem direita do Vouga, entre Angeja e Estarreja.
Quando os seus pais se mudaram para Lisboa, por motivo de negócios, acompanhou-os, mas a responsabilidade que lhe era exigida na atividade negocial dos seus progenitores aligeirou-a, entregando-se a uma febril e intensa participação em boémias sociais e tertúlias de cariz literário.
Possuía um fértil estro repentino que o transmutava sempre que se manifestava, revelando-o como um puro talento inato. A sua torrencial produção artística estendeu-se por cançonetas, elegias, epístolas, fábulas, hinos, madrigais, odes, sátiras, sonetos. Juntamente com Curvo Semedo, Ferrás de Campos e Caldas Barbosa foi fundador e sócio nº1 da Nova Arcádia de Lisboa, no ano de 1790. As sessões realizadas rapidamente foram implementadas e enriquecidas pela dinâmica de novos convidados como Bocage, também prestimoso improvisador e José Agostinho de Macedo. Com o decorrer do tempo esses encontros eivaram-se de controvérsias de que resultaram polémicas aguerridas e virulentas, que conduziram a desconforto e incompatibilidades entre os intervenientes, pelo que a duração da Nova Arcádia não foi além de um lustro, acabando por finar-se em 1795.
Enquanto membro da Nova Arcádia, Francisco Joaquim Bingre usou o criptónimo de Francélio Vouguense, numa alusão clara às suas origens. O fim da academia por si fundada, bem como o seu envolvimento em questões de natureza política, tratava-se de um liberal, levaram-no a que se retirasse para a vila de Mira, no distrito de Coimbra, em 1801. Aí exerceu funções de escrivão do Juízo, de Câmara e tabelião.
Apesar das suas obrigações profissionais nunca deixou de escrever, e mesmo quando esteve fisicamente inapto para o fazer ditava os seus poemas a um neto padre. Tendo estas linhas um caráter biográfico e de divulgação do seu nome e obra, transcrevo, de verbo ad verbum, um poema autobiográfico de Bingre, no ocaso da vida:

«Na aldeia de Canelas fui criado,
E nela também tive o nascimento;
Na corte de Lisboa, a meu contento,
Longo tempo fui afortunado:

Por génio natural às musas dado,
Numa Arcádia de um sábio ajuntamento,
Cultivei na poesia o meu talento,
E por Cisne do Vouga fui cantado:

A Fortuna, que às cegas sempre gira
Dando-me um encontrão daquela altura,
Nos vergéis me lançou da areenta Mira:

Aqui sem fausto algum, e sem ventura,
Quarenta anos pulsei eu inda a lira,
E aqui me abriu a morte a sepultura.»





Autor de uma abundante e extensa produção, só um número reduzidíssimo dos seus textos foi publicado enquanto viveu, apesar dos esforços do seu patrício Sebastião de Carvalho Lima em tornar pública a sua obra. Considerado um poeta pré-romântico é aceite como autor de nomeada pela qualidade acima da média dos seus textos.
Mais recentemente, entre 2000-2005, a professora Vanda Anastácio esmerou-se numa edição crítica da sua obra, em 6 volumes, publicada por uma das mais renomadas e prístinas editoras do Porto. Foi um importante contributo para a visibilidade e conhecimento deste autor, de quem se lamenta, pela sua qualidade e apesar de algumas iniciativas tomadas, não fazer parte dos estudos da História da Literatura Portuguesa.
Bingre veio a falecer aos 93 anos de idade, encontrando-se sepultado em Mira, em jazigo de família. A edilidade de Estarreja homenageou-o atribuindo o seu nome a uma das ruas da localidade e Canelas, terra da sua naturalidade, preiteou-o conferindo o seu nome à banda filarmónica da vila.
Possa a escrita deste texto contribuir para melhorar as possibilidades de avistamento do Cisne do Vouga, para que o seu voo tenha mais visibilidade no universo das letras portuguesas.


Juvenal Nunes