quinta-feira, 26 de novembro de 2020

 POETAS DE PARABÉNS

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN



MAR

Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são
puras.

        Sophia de Mello Breyner Andresen



     Sophia de Mello Breyner Andresen é uma poetisa natural do Porto, onde nasceu 
em 5 de novembro de 1919.
     Foi tradutora e o seu talento manifestou-se também na prosa, tendo escrito livros 
de contos infantis.
     Foi a primeira mulher portuguesa a receber, em 1999, o Prémio Camões.
     Encontra-se sepultada no Panteão Nacional.


segunda-feira, 16 de novembro de 2020



Sinfonia


Pelo teu corpo caminho
Meus dedos silenciosos,
Guitarra a gemer baixinho,
Sons de acordes maviosos,
Em sonata de carinho.


Nas vibrações musicais,
Das almas em harmonia,
Há cantos de madrigais,
Que dão à noite estrelada
Sons de bela  sinfonia.


E o canto da madrugada,
Que nova luz anuncia,
A voz confunde em teu peito
Pois canta do mesmo jeito
Que a alegre cotovia.


Juvenal Nunes



terça-feira, 10 de novembro de 2020

 LUGAR AOS NOVOS

ANDREIA C. FARIA


Descarnação

Até aos trinta anos tens
a cara que Deus te deu. Depois
tens a cara que mereces. É uma promessa
de ironia, uma sentença sem recurso.

É-te assim dito:
estás entregue ao labor íntimo
do que comes, ao número de horas que dormes,
àquilo que fazes e sobretudo
àquilo em que pensas. Deus
(perdoa-lhe a fraqueza)
tolera-nos enquanto somos jovens,
ampara-nos, alisa-nos
a fronte após um desgosto, talvez
nos ame, mas deixa-nos
sozinhos quando a beleza
é terreno pouco firme

e assiste de longe
ao desafio temerário que lançou
a cada filho.

Sabes então que o rosto é uma flor
plantada no escuro, uma corola
tenra, redonda e impenetrável
que desabrocha e se abre
com as pétalas lisas e brilhantes, ou
confusas e despenteadas,
conforme a força
e a direção do vento.

Andreia C. Faria




     Andreia C. Faria é já um valor consagrado da atual poesia portuguesa. Em 2018
venceu o prémio da Sociedade Portuguesa de Autores – SPA – com o livro de poesia
Tão Bela Como Qualquer Rapaz. Em Julho deste ano foi distinguida, unanimemente,
com o Prémio Literário Fundação Inês de Castro, pela publicação do seu livro Alegria
Para o Fim do Mundo.
     Foi precisamente o título deste livro que serviu de mote para a Feira do Livro do Porto 2020.
     É ainda autora das obras De Haver Relento (2008), Flúor (2013) e Um Pouco Acima do Lugar Onde Melhor se Escuta o Coração (2015).
     Os críticos renderam-se à sua obra e Valter Hugo Mãe diz que o seu trabalho “está entre os mais urgentes, magníficos, da poesia contemporânea”.

     

terça-feira, 3 de novembro de 2020

 POESIA PALACIANA



A Poesia Palaciana

 

A evolução da produção poética fez com que,  à poesia Trovadoresca, sucedesse a poesia Palaciana, que se integra no movimento do Humanismo, que vai durar até cerca de 1527.

Garcia de Resende foi um dos elementos mais preponderantes deste período e a ele se deve a compilação desta produção poética, no seu Cancioneiro Geral.

A generalidade dos autores portugueses deste período conviveram, intelectualmente, com poetas espanhóis e italianos, além de autores do classicismo romano, o que, muito naturalmente, os influenciou.

Numa viagem feita a Itália, Sá de Miranda introduziu pela primeira vez, em Portugal, o soneto, dando origem, dessa maneira, a uma nova estética poética. 

São vários os representantes portugueses deste movimento. Por agora, contudo, gostaria de deixar o belo poema de João Roiz de Castelo Branco Cantiga sua Partindo-se, na voz de Amália Rodrigues.