sexta-feira, 28 de abril de 2023

 POETAS DE PARABÉNS

FERNANDO NAMORA







Profecia

Nem me
disseram ainda
para o que vim.
Se logro ou verdade
Se filho amado ou rejeitado.
mas sei
que quando cheguei
os meus olhos viram tudo
e tontos de gula ou espanto
renegaram tudo
e no meu sangue veias se abriram
noutro sangue....
A ele obedeço,
sempre,
a esse incitamento mudo.
Também sei
que hei-de perecer, exangue,
de excesso de desejar;
mas sinto
sempre,
que não posso recuar.

Fernando Namora







        Fernando Namora nasceu em Condeixa- a- Nova, em 15 de abril de 1919 e faleceu em Lisboa, em 31 de janeiro de 1989. Médico de profissão fez 
também carreira nas letras tendo-se estreado como poeta. 
        A sua obra de maior vulto, contudo, foi no domínio da prosa, tornando-se num preclaro representante do neo-realismo.

quinta-feira, 20 de abril de 2023

 POEMAS POR TEMAS

LIBERDADE




Tema: Liberdade



Liberdade, onde estás? Quem te demora?

Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não Caia?
Porque (triste de mim!) porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?

Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo que desmaia.
Oh! Venha… Oh! Venha, e trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!

Eia! Acode ao mortal, que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo.

Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do génio e prazer, oh Liberdade!

Bocage









        De seu nome completo Manuel Maria Barbosa L´Hedois du Bocage nasceu em Setúbal, 
em 15 de setembro de 1765 e faleceu em Lisboa, em 21 de dezembro de 1805.
        Como poeta, distinguiu-se como o mais lídimo representante do arcadismo português.

segunda-feira, 10 de abril de 2023

 VIVER ABRIL



Viver Abril

É abril, nasceu o sol
Que leva ao romper do dia,
Cala-se o rouxinol,
Canta alegre a cotovia,
E na luz desse arrebol
Tudo tem mais alegria.

Pelas veigas e nos prados
Do ridente mês de abril
Há odores perfumados
De flores, encantos mil.
Pássaros enamorados
Vão em voo subtil.

Toda a terra em harmonia
Duma forma natural,
Na mais bela melodia
Faz ouvir o se coral,
Abril ao mundo anuncia
O seu pulsar triunfal.

Aves de todas as cores
Em trilhos onde esvoaça
Todo o perfume das flores,
Dão a certeza a quem passa ,
Entre cores e odores,
Que todo o mundo se abraça
No voo que nos enlaça
Duma ave que esvoaça.

Juvenal Nunes





segunda-feira, 3 de abril de 2023

 A NOVA ARCÁDIA

JOSÉ AGOSTINHO DE MACEDO





A Cidade Bela

Quanto é bela Ulisseia! E quanto é grata
Dos sete montes seus ao longe a vista!
Das altas torres, pórticos soberbos
Quanto é grande, magnífico o prospecto!
Humilde e bonançoso o flavo Tejo,
Sobre areias auríferas correndo,
As praias lhe enriquece, as plantas beija.
Quão denso bosque de cavalos pinhos
Sobre a espádua sustenta! Do Oriente
Rubins acesos, fugidas safiras,
E da opulenta América os tesouros,
Cortando os mares líquidos, trouxeram.
Nela é mais puro o ar; e o Céu se esmalta
De mais sereno azul. O Sol brilhante,
Correndo o vasto Céu, se apraz de vê-la.
E quase se suspende, e, meigo, envia
Sobre ela o raio extremo, quando acaba
A lúcida carreira, a frente de ouro
No seio esconde das cerúleas ondas.

José Agostinho de Macedo





        José Agostinho de Macedo nasceu em Beja a 11 de setembro de 1761 e faleceu
em 2 de outubro de 1831. 
        Enquanto escritor notabilizou-se como poeta. Foi um escritor profícuo  que nos legou uma bibliografia imensa.
        Surpreendeu como acérrimo crítico de Camões, a cuja obra apontou defeitos.
        Publicou o poema épico O Oriente, que considerou menos defeituoso do que Os Lusíadas.