sexta-feira, 30 de abril de 2021

POETAS DE PARABÉNS

ALMADA NEGREIROS





A Sombra Sou Eu

A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!

Almada Negreiros








          Artista de vibrante fulgor, Almada Negreiros nasceu em S. Tomé e Príncipe,
  em 7 de abril de 1893 e faleceu em Lisboa, em 15 de junho de 1970. Cedo se
  revelou precoce, pelo que foi um autodidata.
          O seu génio multifacetado espraiou-se pelas artes plásticas, pontificando
  no desenho e na pintura e pela escrita, sobressaindo no romance,
  poesia, dramaturgia e ensaio.
         Colaborou ativamente nas revistas Presença e Orpheu.
         É um dos principais representantes do modernismo português.
 

terça-feira, 20 de abril de 2021

 



Prece

São ignotos os caminhos,
Que percorro nos meus versos;
Não há rosas sem espinhos
Nesses rumos tão dispersos.

Nesse meu desassossego,
De versos soltos ao vento,
Fica no meu pensamento
Um sulco de desapego.

Sinto um último alento
Na fé em que me obstino,
Elevo aos céus uma prece,
Em que minha alma adormece,
Num bálsamo com que tento
Contrariar o destino.

          Juvenal Nunes





        A imagem apresentada inicialmente representa um quadro do pintor impressionista
 francês Claude Monet, intitulado Um caminho no Jardim de Monet.

terça-feira, 13 de abril de 2021

 POEMAS POR TEMAS


Vida

Três votos fará aquele
que não ser tolo decida
e venha deles primeiro
o de obediência à vida

será o segundo a vir
o de não querer ser rico
o muito passe de largo
o pouco lhe apure o bico

não violar-se a si próprio
como principal o veja
alto ou baixo gordo ou magro
assim nasceu assim seja.

          Agostinho da Silva


           Tema: Vida






         Para além de poeta Agostinho da Silva foi também filósofo, pedagogo, filólogo,
 ensaísta e tradutor.
         Licenciou-se em Filologia Clássica, no Porto, tendo concluído a sua formação em Paris,
 na Sorbonne.
        Trabalhou longos anos no Brasil, tendo regressado a Portugal, após a morte de Salazar.
        Foi agraciado com o grau da Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant`Iago da Espada.

terça-feira, 6 de abril de 2021

 POESIA PALACIANA



Pergunta de Fernão da Silveira a Álvaro Barreto

Quem bem sabe, em tudo sabe,
e porem d'aquy concrudo,
que a vos, que sabes tudo,
a solver as questões cabe.
E porem muy de verdade
peço que esta rrespondaes,
pera ver, se conçertaes
com mynha negra vontade.

Ca eu ja me vy partyr
e tambem despoys cheguar.
e senty todo o sentyr
do prazer e do pesar.
Mas com tudo he de saber,
quall he vossa concrusam:
se partir da mays paxam,
ou chegar mayor prazer.

        Fernão da Silveira




        Fernão da Silveira, aqui representado pelo seu brasão de armas, é um dos mais 
afamados poetas palacianos do séc. XV.