POETAS DE PARABÉNS
ALMADA NEGREIROS
A Sombra
Sou Eu
A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!
Almada Negreiros
Artista de vibrante fulgor, Almada Negreiros nasceu em S. Tomé e Príncipe,
em 7 de abril de 1893 e faleceu em Lisboa, em 15 de junho de 1970. Cedo se
revelou precoce, pelo que foi um autodidata.
O seu génio multifacetado espraiou-se pelas artes plásticas, pontificando
no desenho e na pintura e pela escrita, sobressaindo no romance,
poesia, dramaturgia e ensaio.
Colaborou ativamente nas revistas Presença e Orpheu.
É um dos principais representantes do modernismo português.