domingo, 29 de maio de 2022

 POETAS DE PARABÉNS

ANA DANIEL





Quero

Quero o cinzeiro antigo
E a caixa de Pandora
E a cor de fumo do vestido que vesti
No dia em que fui contigo espreitar a hora…

Quero dar passos atrás, sorrindo de querer
Coisas sem sentido
Nos restos do tempo, nas sombras da hora…
Quero
Que os ramos sacudam na minha janela
Toadas de tudo, toadas de nada
Flor amarela da minha alvorada.

Quero pingos de amor
Migalhas confetti e chuvas de cor
Sem tempo contado…
Quero o despertar contigo a meu lado
Quero chuva, quero vento, quero sol
Trancada em fita de laço
Tão longe do mundo – só no teu abraço!

Ana Daniel







        Ana Daniel é o pseudónimo literário de Maria de Lourdes
Oliveira Canellas da Assunção Sousa.
        Nasceu em Lisboa, em 19 de maio de 1028 e faleceu em
Sintra, em 30 de novembro de 2011.
        Venceu alguns prémios pelos seus trabalhos juvenis e foi
galardoada com o Prémio do Concurso de Manuscritos de Poesia Nacional,
de 1969.
        O seu último trabalho impresso em livro foi Nos Olhos das Madrugadas.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

 FLAMA


Flama

Depois que o sol se põe
No breu da noite ilumina
Com todo o seu esplendor
A bela e doce Lucina.

Na minha alcova em penumbra
Brilha como a luz da lua
A nudez que me deslumbra
Do teu corpo que insinua
Em pontos de luz e sombra
A acendalha do desejo
Que toda minha alma assombra
E cujo calor almejo.

A bela e doce Lucina
Até se sentir corar
E como casta menina
O luar quer apagar

No amor há uma luz
Que não deixa de brilhar
De noite ou à média luz
Está sempre a cintilar.

Juvenal Nunes



quinta-feira, 12 de maio de 2022

 POESIA BARROCA





Que Amor Sigo?

Que amor sigo? Que busco? Que desejo?
Que enleio é este vão da fantasia?
Que tive? Que perdi? Quem me queria?
Quem me faz guerra? Contra quem pelejo?

Foi por encantamento o meu desejo,
e por sombra passou minha alegria;
mostrou-me Amor, dormindo, o que não via,
e eu ceguei do que vi, pois já não vejo.

Fez à sua medida o pensamento
aquela estranha e nova fermosura
e aquele parecer quase divino.

Ou imaginação, sombra ou figura,
é certo e verdadeiro meu tormento:
Eu morro do que vi, do que imagino.

Francisco Rodrigues Lobo







        Francisco Rodrigues Lobo nasceu em Leiria no ano de 1580 e faleceu
em Lisboa, em 4 de novembro de 1622.
        É considerado por muitos o iniciador do Barroco na Literatura Portuguesa,
com a obra Corte na Aldeia.


quinta-feira, 5 de maio de 2022

 POEMAS POR TEMAS






Tema: Fantasia


Fantasia

Há uma mulher em toda a minha vida,
Que não se chega bem a precisar.
Uma mulher que eu trago em mim perdida,
Sem a poder beijar.

Há uma mulher na minha vida inquieta.
Uma mulher? Há duas, muitas mais,
Que não são vagos sonhos de poeta,
Nem formas irreais.

Mulheres que existem, corpos, realidade,
Têm passado por mim, humanamente,
Deixando, quando partem, a saudade
Que deixa toda a gente.

Mas coisa singular, essa que eu não beijei,
É quem me ilude, é quem me prende e quer.
Com ela sonho e sofro... Só não sei
Quem é essa mulher.

Alfredo Brochado







        Alfredo Brochado nasceu em Amarante, em 1897 e faleceu em Lisboa, em 1949.
        Manifestou sempre um gosto incontornável pela criação poética, que cultivou de par com a sua atividade profissional.
        Era introvertido e emocionalmente frágil o que o conduziria ao suicídio.
        Foi contemporâneo de Pascoaes, que lhe reconheceu valor e prefaciou o livro Bosque Sagrado.