terça-feira, 28 de julho de 2020

POETAS DE PARABÉNS

ADOLFO CASAIS MONTEIRO




A Viagem

Da sombra dum céu nocturno
caía em chuva cinzenta
um hálito de outro mundo.
Vagos vislumbres de luz
quebravam raros a treva
e um medo indefinido
inclinava os arvoredos
– um vento frio corria.
Longos navios partiam
direitos ao mar do sonho
onde a tristeza se afoga
entre rochedos sem nome.
Tomam o rumo incerto
desse mar da pobre esperança
os navios desiguais
do sonho de cada um…
Para um ponto indefinido
nos horizontes do vago
partem naus cheias de luz,
de fé, de muita esperança;
partem os grandes navios
daqueles que muito sonham
ao lado daqueles barcos
pobres dum sonho pequeno
que parecem de papel
das almas que nada pedem.
Nas noites de cada dia
as velas cheias de vento
embaladas nas cantigas
de muita e doida esperança
vão partindo as caravelas
do sonho que vive um dia...

        Adolfo Casais Monteiro




     Adolfo Casais Monteiro nasceu no Porto, em 4 de julho de 1908. Poeta, prosador e professor, foi expulso do ensino pelas suas divergências políticas com Salazar. Exilado no Brasil continuou a sua carreira académica. Ainda em Portugal, foi diretor da revista Presença, ao lado de José Régio e João Gaspar Simões.
     É um dos mais significativos representantes do Modernismo português.


sábado, 18 de julho de 2020



Caminhada

No teu corpo há caminhos,
Que percorro e desvendo,
Concedendo-te carinhos
Com os quais a ti me prendo.

Percorro com os meus dedos
As rotas desses acessos,
Vou desvelando segredos
Nos mais íntimos recessos.

Entre chãs, oculta mata,
A esconder o caminho,
Há sussurros em cascata,
Um aroma que adivinho.

De Vénus, sob essa alfombra,
Há uma chama sagrada,
Cuja luz dissipa a sombra
E dá brilho à caminhada.

Guiado por essa luz,
Vencendo cada obstáculo,
Teus caminhos descompus
Mas encontrei meu oráculo.


     Juvenal Nunes




segunda-feira, 13 de julho de 2020

POEMAS POR TEMAS



Mais Beijos




Devagar…

outro beijo… ou ainda…
O teu olhar, misterioso e lento,
veio desgrenhar
a cálida tempestade
que me desvaira o pensamento!

Mais beijos!…

Deixa que eu, endoidecida,
incendeie a tua boca
e domine a tua vida!

Sim, amor..

deixa que se alongue mais
este momento breve!…
— que o meu desejo subindo
solte a rubra asa
e nos leve!

Judith Teixeira




Tema: Amor

A temática da obra de Judith Teixeira fez dela uma escritora maldita e proscrita, na sua época.
Em 1923 envolveram-na na polémica "Literatura de Sodoma"
e o seu livro Decadência foi apreendido.
Aqui fica uma vénia ao seu talento artístico.


quarta-feira, 8 de julho de 2020

POETAS MEDIEVAIS

PAIO SOARES DE TAVEIRÓS




No mundo não conheço outro como eu,
enquanto me acontecer como me acontece:
porque já morro por vós, e ai!,
minha senhora branca e vermelha,
quereis que vos censure
quando vos eu vi em trajes menores?
Mau dia me levantei
que vos então não vi feia!

E, minha senhora, desde então,
passei muitos maus dias, ai!
E vós, filha de D.Paio
Moniz, parece-vos bem
ter eu de vós uma garvaia?
Pois eu, minha senhora, de presente
nunca de vós tive nem tenho
nem a mais pequenina coisa.






Paio Soares de Taveirós, originário da pequena nobreza galega,
foi um trovador da primeira metade do séc. XII.
A cantiga aqui publicada, de que se apresenta uma versão traduzida,
 Cantiga da Ribeirinha  ou Cantiga da Garvaia,
foi considerada, durante muito tempo, como a primeira obra poética 
em língua galaico-portuguesa.
A cantiga foi dedicada a Maria Pais Ribeira, a conhecida Ribeirinha,
amante do rei português D. Sancho I.


garvaia - era um manto luxuoso, provavelmente de cor vermelha, usado
pela nobreza.



sexta-feira, 3 de julho de 2020

INSTRUMENTOS MUSICAIS

AS CASTANHOLAS





É um instrumento musical de percussão. Há três milénios já era conhecido pelos fenícios.
Foi graças a este povo que se vulgarizou através do Mediterrâneo, tendo chegado
a Espanha, onde se tornou um instrumento nacional. Para além disso tem grande impacto nas regiões da Andaluzia, Múrcia e Estremadura, encontrando-se associadas ao flamenco.
As castanholas são, também, bastante populares em Portugal.
Nos saraus medievais eram utilizadas pelas jogralesas, bailarinas que 
acompanhavam os trovadores.





     Termino a enumeração, com nota explicativa, dos principais 
instrumentos medievais. Não é, certamente, uma
amostragem exaustiva de todos quantos foram utilizados.  
     O cromorno, por exemplo, aparece muitas vezes referido como sendo usado no período do trovadorismo, mas tornou-se mais comum no Renascimento.
    Há ainda a rabeca e o arrabil que não foram referidos devido às suas semelhanças com 
a viela, já aqui apresentada. 
O arrabil aparece mencionado nos saraus da corte do rei português  D. Afonso V.

O vídeo seguinte poderá complementar todas as informações apresentadas.