POETAS DE PARABÉNS
ADOLFO CASAIS MONTEIRO
A Viagem
Da sombra dum céu nocturno
caía em chuva cinzenta
um hálito de outro mundo.
Vagos vislumbres de luz
quebravam raros a treva
e um medo indefinido
inclinava os arvoredos
– um vento frio corria.
Longos navios partiam
direitos ao mar do sonho
onde a tristeza se afoga
entre rochedos sem nome.
Tomam o rumo incerto
desse mar da pobre esperança
os navios desiguais
do sonho de cada um…
Para um ponto indefinido
nos horizontes do vago
partem naus cheias de luz,
de fé, de muita esperança;
partem os grandes navios
daqueles que muito sonham
ao lado daqueles barcos
pobres dum sonho pequeno
que parecem de papel
das almas que nada pedem.
Nas noites de cada dia
as velas cheias de vento
embaladas nas cantigas
de muita e doida esperança
vão partindo as caravelas
do sonho que vive um dia...
Adolfo Casais Monteiro
do sonho que vive um dia...
Adolfo Casais Monteiro
Adolfo Casais Monteiro nasceu no Porto, em 4 de julho de 1908. Poeta, prosador e professor, foi expulso do ensino pelas suas divergências políticas com Salazar. Exilado no Brasil continuou a sua carreira académica. Ainda em Portugal, foi diretor da revista Presença, ao lado de José Régio e João Gaspar Simões.
É um dos mais significativos representantes do Modernismo português.