quinta-feira, 28 de setembro de 2023

 A ERA MODERNA

O ROMANTISMO


        Com o fim da Nova Arcádia a poesia portuguesa continuou a sua evolução e entrou-se 
na Era Moderna, cujo início foi marcado pelo Romantismo.
        Este período começou em 1825 sendo Almeida Garrett um dos seus principais representantes.






Destino

Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta Florece!
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou vermelha
O seu mel há-de pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem…
Ai!, não mo disse ninguém.

Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino…
Vim cumprir o meu destino…
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

Almeida Garrett








        Almeida Garrett nasceu no Porto, em 4 de fevereiro de 1799 e
faleceu em Lisboa, em 9 de dezembro de 1854 .
        Combateu na guerra civil portuguesa de 1828-1834, pelos liberais.
        Foi orador e exerceu cargos políticos. Foi romancista histórico,
dramaturgo e poeta. É uma figura cimeira da Literatura Portuguesa com grande expressividade 
no Romantismo.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

 POETAS DE PARABÉNS

PEDRO HOMEM DE MELLO





Inocência

De um lado, a veste; o corpo, do outro lado,
Límpido, nu, intacto, sem defesa...
Mitológico rosto debruçado
Na noite que, por ele, fica acesa!

Se traz os lábios húmidos e lassos
É que a paixão sem mácula ainda o cega
E tatuou na curva de alvos braços
As sete letras da palavra: entrega.

Acre perfume o dessa flor agreste.
Álcool azul o desse verde vinho.
De um lado o corpo; do outro lado, a veste
Como luar deitado no caminho...

Em frente há um pinheiro cismador.
O rio corre, vagaroso ao fundo.
Na estrada ninguém passa... Ai! tanto amor
Sem culpa!
Ai! dos Poetas deste mundo!

Pedro Homem de Mello







         Pedro Homem de Mello nasceu no Porto, em 6 de setembro de 1904 e faleceu na
mesma cidade, em 5 de março de 1984.
         É um conceituado poeta e folclorista português.
         Foi colaborador das revistas Presença, Altura e Prisma entre outras.
         A ele se deve a criação e patrocínio de alguns ranchos folclóricos, no Minho.
         Foi agraciado, a título póstumo, com o grau de Comendador da Ordem do
Infante D. Henrique.

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

 POEMAS POR TEMAS

GRATIDÃO




Tema: Gratidão


Dona Abastança

“A caridade é amor”
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor de alta finança.

Família necessitada
A boa senhora acode
Poucos a uns a outros nada
“Dar a todos não se pode.”

Já se deixa ver
Que não pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.

O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem não tem
Fazendo mais e mais pobres.

Já se deixa ver
Que não pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.

Oh engano sempre novo
De tão estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo dessa cidade.

Manuel da Fonseca







        Manuel da Fonseca nasceu a 15 de outubro de 1911, em Santiago do Cacém e faleceu 
em Lisboa a 11 de março de 1993.
        No mundo das letras notabilizou-se como contista, romancista, cronista e poeta que é 
a faceta com que aqui o recordamos.
        Conseguiu reunir consenso no sentido de ser considerado um dos melhores escritores 
do Neorrealismo português.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

 



Procura

No pélago da noite, que loucura,
Escuridão despida de luar,
Caminhar nessa senda é uma tortura,
Cego, sem nada poder vislumbrar.

Ainda assim, prossigo na procura
Dessa luz que me possa iluminar,
Buscar em ti o farol que depura
Os tempos ativos do verbo amar.

Nessa luta às balas eu dou o peito
Sem da sorte esperar uma desfeita
Porque nada farei de contrafeito.

Continuo, tenaz, nesse processo,
Opero com vigor de forma estreita,
Buscando em ti a luz que bem mereço.

Juvenal Nunes