segunda-feira, 28 de agosto de 2023

 A NOVA ARCÁDIA

MARQUESA DE ALORNA






Sonho

Perdoa, Amor, se não quero
Aceitar novo grilhão;
Quando quebraste o primeiro,,
Quebraste-me o coração.

Olha, Amor, tem dó de mim!
Repara nos teus estragos,
E desvia por piedade
Teus sedutores afagos!

Tu de dia não me assustas;
Os meus sentidos atentos
Opõem aos teus artifícios
Mil pesares, mil tormentos.

Mas, cruel, porque me assaltas,
De mil sonhos rodeado?
Porque acometes no sono
Meu coração descuidado?...

Eu, quando acaso adormeço,
Adormeço de cansada,
E o crepúsculo do dia
Me acorda sobressaltada.

Arguo então a minha alma,
Repreendo a natureza
De ter cedido ao descanso
Tempo que devo à tristeza.

Que te importa um ser tão triste?...
Cobre de jasmins e rosas
Outras amantes felizes!
Deixa gemer as saudosas!   

  Marquesa de Alorna






        De seu nome completo Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre usou, por ser representante da nobreza, o título de 4º marquesa de Alorna.
        Foi uma elevada representante da Nova Arcádia, onde ficou conhecida como Alcipe.
        Renomada poetisa os seus trabalhos estão reunidos no volume Obras Poéticas.

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

 POETAS DE PARABÉNS

GONÇALVES DIAS



MINHA TERRA TEM PALMEIRAS

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias







        António Gonçalves Dias nasceu em 10 de agosto de 1823, na cidade de Caxias, 
já com o Brasil independente e faleceu em 3 de novembro de 1864 num naufrágio ao
 largo da costa brasileira, quando regressava de Portugal, onde retornara por razões 
de saúde, que não conseguiu debelar.
        Exilou-se em Portugal, em 1838, por se ter envolvido nas guerras contra a 
independência do Brasil e acabou por se formar em Direito em Coimbra.
        Apaixonou-se irremediavelmente por Ana Amélia Ferreira do Vale, no Brasil, 
mas como era filho de um branco e de uma mestiça o preconceito racista falou mais alto 
e a família da amada não autorizou o relacionamento.
        Advogado, teatrólogo e poeta foi nesta última condição que alcançou notoriedade, sendo considerado um dos melhores poetas líricos da literatura brasileira.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

 POEMAS POR TEMAS

 A PRAIA




Tema: A Praia



Na Praia lá da Boa Nova

Na praia lá da Boa Nova, um dia,
Edifiquei (foi esse o grande mal)
Alto Castelo, o que é a fantasia,
Todo de lápis-lazúli e coral!

Naquelas redondezas não havia
Quem se gabasse dum domínio igual:
Oh Castelo tão alto! parecia
O território dum Senhor feudal!

Um dia (não sei quando, nem sei donde)
Um vento seco de deserto e spleen
Deitou por terra, ao pó que tudo esconde,

O meu condado, o meu condado, sim!
Porque eu já fui um poderoso Conde,
Naquela idade em que se é conde assim…

António Nobre







         António Nobre é natural do Porto, cidade onde nasceu a 16 de agosto de 1867, tendo  
vindo a falecer, na Foz do Douro, a 18 de março de 1900.
         Poeta nostálgico, cultivou o ultrarromantismo e enriqueceu a corrente simbolista.
         Em vida, publicou apenas uma obra, o livro de poesia Só, que ainda assim influenciou o modernismo português.

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

 NATUREZA EM CRIAÇÃO








Natureza em Criação

Ao passear distraído
Vi em uma ameixoeira
Um ninho bem construído
Dum melro e companheira.

Três ovos bem azulados,
Postos com todo o fervor,
Pelo casal são criados
Com desvelo e com amor.

Passam então treze dias
Para a eclosão dos ovos,
Na calma das ramarias
Nascem os pássaros novos.

O seu corpo nasce implume
São criados pelos pais,
O tempo dá-lhes volume
Sob as brisas estivais.

Cobre-se o corpo de penas
Ficam prontos para voar,
Em pouco tempo apenas
Voam no céu a cantar.

A natureza encerra 
Uma lição bem sabida
Espalhando pela terra
A propagação da vida.

Juvenal  Nunes