domingo, 27 de março de 2022

 POETAS DE PARABÉNS

ANTÓNIO PATRÍCIO



De que me rio eu?

De que me rio eu?... Eu rio horas e horas
só para me esquecer, para me não sentir.
Eu rio a olhar o mar, as noites e as auroras;
passo a vida febril inquietantemente a rir.

Eu rio porque tenho medo, um terror vago
de me sentir a sós e de me interrogar;
rio pra não ouvir a voz do mar pressago
nem a das coisas mudas a chorar.

Rio pra não ouvir a voz que grita dentro de mim
o mistério de tudo o que me cerca
e a dor de não saber porque vivo assim. 

António Patrício







        António Patrício nasceu no Porto, em 7 de março de 1878 e faleceu em Macau, em 4 de junho
de 1930. Foi escritor e diplomata. Como escritor foi poeta e prosador.
        Iniciou a sua atividade poética com a publicação do livro Oceano. Continuou na arte das letras evidenciando a sua veia de prosador como contista e dramaturgo.
        Cultivou o simbolismo, o decadentismo e o saudosismo.


domingo, 20 de março de 2022

 POEMAS POR TEMAS






Tema: Saudade

Ausência

 

Meu amor, como eu sofro este tormento

da tua ausência!... Ando magoada

como a folha arrancada pelo vento

ao carinhoso anseio da ramada…


Procuro desviar o pensamento…

mas oiço ao longe a tua voz molhada

em lágrimas, vibrando o sofrimento

da nossa vida assim, tão separada!


os meus beijos escutam os teus beijos

exigentes – perdidos de saudade…

crispando amargamente os meus desejos!

 

e dia a dia essa canção de dor,

ritornelo sombrio de ansiedade,

exalta ainda mais o meu amor!

 

Judith Teixeira








         Judith Teixeira nasceu em Viseu, em 25 de janeiro de 1880 e faleceu em Lisboa,
em 17 de maio de 1959.
        A temática da obra de Judith Teixeira fez dela uma escritora maldita e proscrita,
na sua época.
        Em 1923 envolveram-na na polémica "Literatura de Sodoma" e o seu livro
 Decadência foi apreendido.
        Nunca é por demais recordá-la considerando a qualidade da sua obra poética.

domingo, 13 de março de 2022


O BARROCO

        A morte de Camões, em 1580, coincide com o início do Barroco, que vai vigorar, em Portugal,
até 1756. Este estilo floresceu na arte da pintura, arquitetura, música e literatura.
        Em Portugal, o Barroco Literário teve, no padre António Vieira, o seu maior representante.
Como falamos de poesia destacamos D. Francisco Manuel de Melo.




Saudades

 

Serei eu alguma hora tão ditoso,

Que os cabelos que amor laços fazia,

Por prémio de o esperar, veja algum dia

Soltos ao brando vento buliçoso?

 

Verei os olhos donde o sol fermoso

As portas da manhã mais cedo abria,

Mas em chegando a vê-los se partia,

Ou cego, ou lisonjeiro, ou temeroso?

 

Verei a limpa testa a quem a aurora

Graça sempre pediu? E os brancos dentes,

Por quem trocara as pérolas que chora?

 

Mas, que espero de ver dias contentes,

Se para se pagar de gosto uma hora,

Não bastam mil idades diferentes?

 

D. Francisco Manuel de Melo









        D. Francisco Manuel de Melo é um lídimo representante do Barroco português. Dispersou
o seu talento pela epistolografia, história, poesia e teatro.
        Viveu em liberdade durante o período filipino. Após a Restauração, em 1644, recebeu a
comenda da Ordem de Cristo, mas o seu envolvimento amoroso com uma senhora, que também
era cortejada por D. João IV, valeu-lhe a inimizade do rei. Acabou preso e degredado, primeiro em África, depois no Brasil. Quando D. João IV morreu, pôde regressar a Portugal, em 1658.


quinta-feira, 3 de março de 2022

 AS CORES DA PAZ




As Cores da Paz

A pomba branca da paz
Que a guerra amordaça,
Nesse contexto minaz
Já pouco ou nada esvoaça.

Na sua alva brancura
Há rubros pingos de sangue,
Sinais certos porventura
Que a fez tornar exangue.

Homens de boa vontade,
Numa luta sem quartel,
Dão asas à liberdade
Sem baixar o seu broquel.

E todos em união
Podem deixar redimidas
As penas da submissão
Tornando livres as vidas,
Que da união avisadas,
Dão às penas salpicadas
As cores mais delicadas,
Tão de pronto irisadas
Pelas nações irmanadas.

Juvenal Nunes