domingo, 31 de dezembro de 2023

 POETAS DE PARABÉNS

JOSÉ TOLENTINO DE MENDONÇA









A Noite Abre Meus Olhos

Caminhei sempre para ti sobre o mar encrespado
na constelação onde os tremoceiros estendem
rondas de aço e charcos
no seu extremo azulado

Ferrugens cintilam no mundo,
atravessei a corrente
unicamente às escuras
construí minha casa na duração
de obscuras línguas de fogo, de lianas, de líquenes

A aurora para a qual todos se voltam
leva meu barco da porta entreaberta

o amor é uma noite a que se chega só

José Tolentino de Mendonça

 




        José Tolentino de Mendonça é natural do Machico, ilha da Madeira, onde nasceu em 15 de dezembro de 1965.
        Foi nomeado Cardeal pelo Papa Francisco. Para além de poeta é também teólogo.
        A sua vasta obra poética coloca-o próximo do mundo cultural, que lhe reconhece as qualidades, tendo sido, inúmeras vezes, galardoado.

domingo, 24 de dezembro de 2023

 3º ENCONTRO TEMÁTICO DE NATAL

UM POEMA DE NATAL





        Termina hoje a proposta desta iniciativa.
        Quero agradecer a todos os visitantes, leitores, comentadores e escritores a honra que me deram em colocar o vosso talento ao serviço desta iniciativa.
        A dinâmica desenvolvida enriqueceu a proposta apresentada e colocou o espírito do Natal no cerne das preocupações de todos os participantes.
        Um grande bem haja e muito obrigado a todos.

        Bom Natal

        Juvenal Nunes

Obs: Os interessados poderão usar o distintivo alusivo à sua participação.




sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

 XIV INTERAÇÃO FRATERNA DE NATAL







Angelical

Jesus nasceu em Belém,
Anjo da paz e do bem
Para o podermos louvar;
Criou novas esperanças,
Abriu o mundo às crianças,
Sua estrela fez brilhar.

Num curral deu o exemplo
De humildade divinal,
Nele quis fazer o seu templo
Numa noite especial.

Propôs uma caminhada
Para a qual nos deu a luz,
Durante toda a jornada
É anjo que nos conduz.

Juvenal Nunes




quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

 3º ENCONTRO TEMÁTICO

POEMA DE NATAL





Gesto de Amor

Uma estrela sem igual,
Nas palhas da manjedoura,
Tem um brilho especial,
Que de luz a noite doura
Iluminando o Natal
De Jesus, o Deus- Menino.
Que dum humilde curral
Fez o seu berço divino.

No seu berço humilde e pobre
Não há riqueza nem glória,
Mas com esse gesto nobre
Desses tempos há memória
Dum rei vindo a este mundo,
Que a todos deixa o clamor 
Desse eco vivo e profundo
Duma vivência de amor.

Juvenal Nunes






quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

 3º ENCONTRO TEMÁTICO

POEMA DE NATAL




        Com o decorrer do mês de dezembro vai-se aproximando a festa do Natal.
        A exemplo dos anos anteriores gostaria de convidar todos os amigos visitantes, leitores, comentadores e escritores a participarem nesta iniciativa com trabalhos alusivos à efeméride.

        Os interessados deverão:

        -- postar o texto no seu blog, antecedido do distintivo pictográfico apresentado.

        Saudações natalícias,

        Juvenal Nunes




Participantes:

1ª - Chica - Natal e Presença

2ª - Verena - Anjos

3ª - Rosélia Bezerra - Foi, É, Será Sempre Natal

4ª - Teresa Palmira Hoffbauer - Natal com Luís-Guilherme

5ª - Juvenal Nunes - Gesto Nobre

6ª - Olinda Melo - Suaves Sortilégios

7ª - Mário Margaride - Natal... Não É Apenas em Dezembro

8ª - JP Alexander - Navidad

quarta-feira, 29 de novembro de 2023



 O ROMANTISMO

CAMILO CASTELO BRANCO




Perdida!

Veloz, qual flecha impelida
O meu cavalo corria…
Eu tinha a febre da raiva,
Abrasava-me a agonia,
E o cavalo generoso
O meu ódio concebia.

Os precipícios transpunha
Sem as rédeas sofrear!
Longe, ao longe eu ansiava
Este horizonte alargar;
Procurava mundos novos,
Faltava-me ali o ar.

E, de relance, deviso
Linda flor em ermo Val,
Mal aberta, e aljofrada
Pelo orvalho matinal,
Reacendendo solitária
Seu perfume virginal.

Nenhum homem lhe tocara,
Nem talvez a vira ali!
Tive orgulho de encontrá-la,
Que outra mais bela não vi.
Mas o ímpeto indomável
Do cavalo não venci.

E perdi-a! Não me lembro
Onde vi tão linda flor!
Sei que lá me fica a alma
Como um feudo pago à dor.
Outros lábios virão dar-lhe
Férvido beijo d’amor.

Camilo Castelo Branco  







         Camilo Castelo Branco é natural de Lisboa, onde viu a luz do dia aos 16 de março
de 1825, tendo vindo a falecer em S. Miguel de Seide, em 1 de junho de 1890.
        Escritor genial, tornou-se, por dificuldades económicas, no primeiro escritor
profissional português.
        Do seu trabalho resultou uma obra incomensurável, na prosa principalmente, mas
também se destacou na poesia.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

 POETAS DE PARABÉNS

SOPHIA DE MELLO BREYNNER ANDRESEN



Fundo do Mar

                No fundo do mar há brancos pavores,
               Onde as plantas são animais
               E os animais são flores.
 

              Mundo silencioso que não atinge
              A agitação das ondas.
              Abrem-se rindo conchas redondas,
              Baloiça o cavalo-marinho.
              Um polvo avança
              No desalinho
              Dos seus mil braços,
              Uma flor dança,
              Sem ruído vibram os espaços.
 

              Sobre a areia o tempo poisa
              Leve como um lenço.
 

              Mas por mais bela que seja cada coisa
              Tem um monstro em si suspenso.

            Sophia de Mello Breynner Andresen






        Sophia de Mello Breynner Andresen viu a luz do dia no Porto, em 6 de novembro de 
1919 e viria a falecer em Lisboa, em 2 de julho de 2004.
        É considerada uma das mais importantes poetisas portuguesas do séc. XX tendo recebido 
o Prémio Camões em 1999.
        Notabilizou-se, também, como contista escrevendo livros para a infância.
        Jaz sepultada no Panteão Nacional, em Lisboa.


domingo, 12 de novembro de 2023

 SOLICITUDE



Solicitude

Calcorreio veredas e caminhos
Por onde esvoaçam as mariposas,
Leves, breves asas silenciosas,
Desferindo no ar doces carinhos.

Escuto o som dos meus passos sozinhos
Nas íngremes ladeiras declivosas,
Aspiro o ar das perfumadas rosas,
Pressinto a vida no calor dos ninhos.

Nervosas, as mãos, numa prece, oram
Por todos aqueles que na dor choram,
Na vida condenados ao degredo;

Num gesto solidário eu ergo os braços
Querendo envolver todos os espaços,
Num último esforço, banir o medo.

Juvenal Nunes



domingo, 5 de novembro de 2023

 POEMAS POR TEMAS

MIGUEL TORGA



Tema: Liberdade


Liberdade 

-- Liberdade, que estais no céu…
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

-- Liberdade, que estais na terra…
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
-- Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga




        Miguel Torga nasceu em S. Martinho de Anta em 12 de agosto de 1907 e faleceu
em Coimbra, em 17 de janeiro de 1995.
        Oriundo de uma família humilde que trabalhava na agricultura, começou a trabalhar
com 10 anos de idade. Após uma curta passagem pelo seminário emigrou para
o Brasil aos treze anos para trabalhar numa fazenda de café, pertencente a um tio.
Devido à sua enorme capacidade de aprendizagem o tio permitiu-lhe que ´prosseguisse os
estudos, no Brasil. Cinco anos volvidos regressa a Portugal, conclui os estudos liceais
e acaba por se licenciar em Medicina, na Universidade de Coimbra.
        Médico de profissão, dedicou-se intensamente à atividade literário tornando-se num dos
grandes escritores do séc. XX português, tanto na prosa como na poesia.
        Embora nomeado para o Prémio Nobel nunca chegou a receber esta distinção. Contudo, 
dentre os vários prémios com que foi agraciado consta o Prémio Camões, o mais importante 
da língua portuguesa.


domingo, 29 de outubro de 2023

 O ROMANTISMO

ALEXANDRE HERCULANO





A Graça

Que harmonia suave
É esta, que na mente
Eu sinto murmurar,
Ora profunda e grave,
Ora meiga e cadente,
Ora que faz chorar?
Porque da morte a sombra,
Que para mim em tudo
Negra se reproduz,
Se aclara, e desassombra
Seu gesto carrancudo,
Banhada em branda luz?
Porque no coração
Não sinto pesar tanto
O férreo pé da dor,
E o hino da oração,
Em vez de irado canto,
Me pede íntimo ardor?

És tu, meu anjo, cuja voz divina
Vem consolar a solidão do enfermo,
E a contemplar com placidez o ensina
De curta vida o derradeiro termo?

Oh, sim!, és tu, que na infantil idade,.
Da aurora à frouxa luz,
Me dizias: «Acorda, inocentinho,
Faz o sinal da Cruz.»
És tu, que eu via em sonhos, nesses anos
De inda puro sonhar,
Em nuvem d'ouro e púrpura descendo
Coas roupas a alvejar.
És tu, és tu!, que ao pôr do Sol, na veiga,
Junto ao bosque fremente,
Me contavas mistérios, harmonias
Dos Céus, do mar dormente.
És tu, és tu!, que, lá, nesta alma absorta
Modulavas o canto,
Que de noite, ao luar, sozinho erguia
Ao Deus três vezes santo.
És tu, que eu esqueci na idade ardente
Das paixões juvenis,
E que voltas a mim, sincero amigo,
Quando sou infeliz.
Sinta a tua voz de novo,
Que me revoca a Deus:
Inspira-me a esperança,
Que te seguiu dos Céus!...

Alexandre Herculano






        De seu nome completo Alexandre Herculano de Carvalho Araújo nasceu em Lisboa, 
em 28 de março de 1810 e faleceu no seu retiro de Santarém, em 13 de setembro de 1877.
        Notabilizou-se como historiador, jornalista e poeta da era do Romantismo.
        Defendeu a causa liberal, pela qual lutou militarmente tendo participado no Cerco do Porto.
        Acabou por recusar as honrarias que lhe foram concedidas.

domingo, 22 de outubro de 2023

 POETAS DE PARABÉNS

RUI PIRES CABRAL




A Nossa Vez

É o frio que nos tolhe ao domingo
no Inverno, quando mais rareia
a esperança. São certas fixações
da consciência, coisas que andam
pela casa à procura de um lugar

e entram clandestinas no poema.
São os envelopes da companhia
da água, a faca suja de manteiga
na toalha, esse trilho que deixamos
atrás de nós e se decifra sem esforço
nem proveito. É a espera

e a demora. São as ruas sossegadas
à hora do telejornal e os talheres
da vizinhança a retinir. É a deriva
noturna da memória: é o medo
de termos perdido sem querer

a nossa vez.

Rui Pires Cabral







        Rui Pires Cabral é um poeta português nascido a 1 de outubro de 1967, em Chacim, aldeia 
de Macedo de Cavaleiros.
        Publicou vários livros de poesia, sendo que o primeiro ocorreu em 1985 e intitulava-se Qualquer Coisa Estranha.
        A sua obra poética oscila entre um cosmopolitismo consciente em contraste com o 
mundo rural que lhe deu o ser.

domingo, 15 de outubro de 2023

 POEMAS POR TEMAS

AMOR



Tema: Amor




O Amor Quando Se Revela

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p’ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P’ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar… 

Fernando Pessoa







        Em 13 de junho de 1888, nasceu em Lisboa o poeta Fernando Pessoa, tendo falecido, na mesma cidade, em 30 de novembro de 1935. 
        Manifestou diversas personalidades literárias expressas nos diferentes heterónimos. É figura central do Modernismo português. Foi também um homem multifacetado tendo sido tradutor, publicitário, astrólogo, filósofo, dramaturgo, ensaísta e crítico literário.
        A verdadeira dimensão da sua obra só foi conhecida postumamente.

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

 OLHAR O OUTONO






Olhar o Outono

Contemplo pela vidraça
As folhas em mutação,
Na cor que muda e que passa
A fazer tela no chão.

O outono é bom pintor,
Faz da folha sua tela,
Dando a cada uma a cor
Com que pinta a aguarela.

É de efémera vaidade
Tão colorida roupagem,
Breve cai com mansidade
Arrastada pela aragem.

É então que chega a hora
Das aves de migração,
É tempo de irem embora,
Cumprirem sua missão.

A pouco e pouco se instala
Um silêncio que aparece,
Passarada que abala
Porque o tempo adormece.

Há um novo desafio
De que este tempo é dono
Fazer do tempo mais frio
Porque é tempo do outono.

Tempo de melancolias,
Árvores de membros lassos,
Eu ouço nas ramarias
O choro nu dos seus braços.

Juvenal Nunes




quinta-feira, 28 de setembro de 2023

 A ERA MODERNA

O ROMANTISMO


        Com o fim da Nova Arcádia a poesia portuguesa continuou a sua evolução e entrou-se 
na Era Moderna, cujo início foi marcado pelo Romantismo.
        Este período começou em 1825 sendo Almeida Garrett um dos seus principais representantes.






Destino

Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta Florece!
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou vermelha
O seu mel há-de pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem…
Ai!, não mo disse ninguém.

Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino…
Vim cumprir o meu destino…
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

Almeida Garrett








        Almeida Garrett nasceu no Porto, em 4 de fevereiro de 1799 e
faleceu em Lisboa, em 9 de dezembro de 1854 .
        Combateu na guerra civil portuguesa de 1828-1834, pelos liberais.
        Foi orador e exerceu cargos políticos. Foi romancista histórico,
dramaturgo e poeta. É uma figura cimeira da Literatura Portuguesa com grande expressividade 
no Romantismo.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

 POETAS DE PARABÉNS

PEDRO HOMEM DE MELLO





Inocência

De um lado, a veste; o corpo, do outro lado,
Límpido, nu, intacto, sem defesa...
Mitológico rosto debruçado
Na noite que, por ele, fica acesa!

Se traz os lábios húmidos e lassos
É que a paixão sem mácula ainda o cega
E tatuou na curva de alvos braços
As sete letras da palavra: entrega.

Acre perfume o dessa flor agreste.
Álcool azul o desse verde vinho.
De um lado o corpo; do outro lado, a veste
Como luar deitado no caminho...

Em frente há um pinheiro cismador.
O rio corre, vagaroso ao fundo.
Na estrada ninguém passa... Ai! tanto amor
Sem culpa!
Ai! dos Poetas deste mundo!

Pedro Homem de Mello







         Pedro Homem de Mello nasceu no Porto, em 6 de setembro de 1904 e faleceu na
mesma cidade, em 5 de março de 1984.
         É um conceituado poeta e folclorista português.
         Foi colaborador das revistas Presença, Altura e Prisma entre outras.
         A ele se deve a criação e patrocínio de alguns ranchos folclóricos, no Minho.
         Foi agraciado, a título póstumo, com o grau de Comendador da Ordem do
Infante D. Henrique.

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

 POEMAS POR TEMAS

GRATIDÃO




Tema: Gratidão


Dona Abastança

“A caridade é amor”
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor de alta finança.

Família necessitada
A boa senhora acode
Poucos a uns a outros nada
“Dar a todos não se pode.”

Já se deixa ver
Que não pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.

O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem não tem
Fazendo mais e mais pobres.

Já se deixa ver
Que não pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.

Oh engano sempre novo
De tão estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo dessa cidade.

Manuel da Fonseca







        Manuel da Fonseca nasceu a 15 de outubro de 1911, em Santiago do Cacém e faleceu 
em Lisboa a 11 de março de 1993.
        No mundo das letras notabilizou-se como contista, romancista, cronista e poeta que é 
a faceta com que aqui o recordamos.
        Conseguiu reunir consenso no sentido de ser considerado um dos melhores escritores 
do Neorrealismo português.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

 



Procura

No pélago da noite, que loucura,
Escuridão despida de luar,
Caminhar nessa senda é uma tortura,
Cego, sem nada poder vislumbrar.

Ainda assim, prossigo na procura
Dessa luz que me possa iluminar,
Buscar em ti o farol que depura
Os tempos ativos do verbo amar.

Nessa luta às balas eu dou o peito
Sem da sorte esperar uma desfeita
Porque nada farei de contrafeito.

Continuo, tenaz, nesse processo,
Opero com vigor de forma estreita,
Buscando em ti a luz que bem mereço.

Juvenal Nunes




segunda-feira, 28 de agosto de 2023

 A NOVA ARCÁDIA

MARQUESA DE ALORNA






Sonho

Perdoa, Amor, se não quero
Aceitar novo grilhão;
Quando quebraste o primeiro,,
Quebraste-me o coração.

Olha, Amor, tem dó de mim!
Repara nos teus estragos,
E desvia por piedade
Teus sedutores afagos!

Tu de dia não me assustas;
Os meus sentidos atentos
Opõem aos teus artifícios
Mil pesares, mil tormentos.

Mas, cruel, porque me assaltas,
De mil sonhos rodeado?
Porque acometes no sono
Meu coração descuidado?...

Eu, quando acaso adormeço,
Adormeço de cansada,
E o crepúsculo do dia
Me acorda sobressaltada.

Arguo então a minha alma,
Repreendo a natureza
De ter cedido ao descanso
Tempo que devo à tristeza.

Que te importa um ser tão triste?...
Cobre de jasmins e rosas
Outras amantes felizes!
Deixa gemer as saudosas!   

  Marquesa de Alorna






        De seu nome completo Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre usou, por ser representante da nobreza, o título de 4º marquesa de Alorna.
        Foi uma elevada representante da Nova Arcádia, onde ficou conhecida como Alcipe.
        Renomada poetisa os seus trabalhos estão reunidos no volume Obras Poéticas.

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

 POETAS DE PARABÉNS

GONÇALVES DIAS



MINHA TERRA TEM PALMEIRAS

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias







        António Gonçalves Dias nasceu em 10 de agosto de 1823, na cidade de Caxias, 
já com o Brasil independente e faleceu em 3 de novembro de 1864 num naufrágio ao
 largo da costa brasileira, quando regressava de Portugal, onde retornara por razões 
de saúde, que não conseguiu debelar.
        Exilou-se em Portugal, em 1838, por se ter envolvido nas guerras contra a 
independência do Brasil e acabou por se formar em Direito em Coimbra.
        Apaixonou-se irremediavelmente por Ana Amélia Ferreira do Vale, no Brasil, 
mas como era filho de um branco e de uma mestiça o preconceito racista falou mais alto 
e a família da amada não autorizou o relacionamento.
        Advogado, teatrólogo e poeta foi nesta última condição que alcançou notoriedade, sendo considerado um dos melhores poetas líricos da literatura brasileira.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

 POEMAS POR TEMAS

 A PRAIA




Tema: A Praia



Na Praia lá da Boa Nova

Na praia lá da Boa Nova, um dia,
Edifiquei (foi esse o grande mal)
Alto Castelo, o que é a fantasia,
Todo de lápis-lazúli e coral!

Naquelas redondezas não havia
Quem se gabasse dum domínio igual:
Oh Castelo tão alto! parecia
O território dum Senhor feudal!

Um dia (não sei quando, nem sei donde)
Um vento seco de deserto e spleen
Deitou por terra, ao pó que tudo esconde,

O meu condado, o meu condado, sim!
Porque eu já fui um poderoso Conde,
Naquela idade em que se é conde assim…

António Nobre







         António Nobre é natural do Porto, cidade onde nasceu a 16 de agosto de 1867, tendo  
vindo a falecer, na Foz do Douro, a 18 de março de 1900.
         Poeta nostálgico, cultivou o ultrarromantismo e enriqueceu a corrente simbolista.
         Em vida, publicou apenas uma obra, o livro de poesia Só, que ainda assim influenciou o modernismo português.