CAMILO CASTELO BRANCO
Veloz, qual flecha impelida
O meu cavalo corria…
Eu tinha a febre da raiva,
Abrasava-me a agonia,
E o cavalo generoso
O meu ódio concebia.
Os precipícios transpunha
Sem as rédeas sofrear!
Longe, ao longe eu ansiava
Este horizonte alargar;
Procurava mundos novos,
Faltava-me ali o ar.
E, de relance, deviso
Linda flor em ermo Val,
Mal aberta, e aljofrada
Pelo orvalho matinal,
Reacendendo solitária
Seu perfume virginal.
Nenhum homem lhe tocara,
Nem talvez a vira ali!
Tive orgulho de encontrá-la,
Que outra mais bela não vi.
Mas o ímpeto indomável
Do cavalo não venci.
E perdi-a! Não me lembro
Onde vi tão linda flor!
Sei que lá me fica a alma
Como um feudo pago à dor.
Outros lábios virão dar-lhe
Férvido beijo d’amor.
Camilo Castelo Branco é natural de Lisboa, onde viu a luz do dia aos 16 de março
de 1825, tendo vindo a falecer em S. Miguel de Seide, em 1 de junho de 1890.
Escritor genial, tornou-se, por dificuldades económicas, no primeiro escritor
profissional português.
Do seu trabalho resultou uma obra incomensurável, na prosa principalmente, mas
também se destacou na poesia.