quarta-feira, 27 de março de 2024

 O ULTRARROMANTISMO

SOARES DE PASSOS





Desejo

Oh! quem nos teus braços pudera ditoso
No mundo viver,
Do mundo esquecido no lânguido gozo
D'infindo prazer.

Sentir os teus olhos serenos, em calma,
Falando d'além,
D'além! duma vida que sonha minha alma,
Que a terra não tem.

Eu dera este mundo, com tudo o que encerra
Por tal galardão:
Tesouros, e glórias, os tronos da terra,
Que valem, que são?

A sede que eu tenho não morre apagada
Com tal aridez:
Pudesse eu ganhá-los, e iria seu nada
Depor a teus pés.

E só desejando mais doce vitória,
Dizer-te: eis aqui
Meu ceptro e ciência, tesouros e glória:
Ganhei-os por ti.

A vida, essa mesma daria contente,
Sem pena, sem dor,
Se um dia embalasses, um dia somente,
Meu sonho d'amor.

Isenta do laço que ao mundo nos prende,
A vida que vale?
A vida é só vida se o amor nela acende
Seu doce fanal.

Aos mundos que eu sonho pudesse eu contigo,
Voando, subir;
Depois que importava? depois no jazigo
Sorrira ao cair.

Soares de Passos




        António Augusto Soares de Passos nasceu na cidade do Porto em 27 de novembro de 
1826 tendo falecido na mesma cidade em 8 de fevereiro de 1860. 
         Concluiu o curso de Direito na Universidade de Coimbra tendo exercido como jurista 
até se dedicar exclusivamente à Poesia.
        É considerado figura de proa do Ultrarromantismo português.

domingo, 17 de março de 2024

 DIA MUNDIAL DA POESIA

                                                                                                                      





         Dia Mundial da Poesia

Está perto a primavera
Com vasta policromia
Quem por ela sempre espera
Também acha a Poesia.

Brincam as flores no prado,
Sopram amenas aragens,
Cada par enamorado
Por amor troca mensagens.

Gorjeiam ternas as aves
Em alegre sinfonia;
Tudo quanto se revela,
Por simples modos suaves,
Ultrapassa a fantasia,
Tornando sempre mais bela
A candura dos poetas,
Que revive em poesia
Libertando-os de grilhetas
Na mais completa harmonia.

        Juvenal Nunes







        O Dia Mundial da Poesia foi consagrado pela Unesco no dia 21 de março.
        Esta data coincide, também, com o Dia Mundial da Árvore.
        Portugal, país do hemisfério norte, recebe a primavera, este ano, no dia 20 de março, 
não se dando, portanto, a coincidência das três efemérides.

        Esta minha participação responde à iniciativa lançada pela amiga Rosélia Bezerra.

sábado, 9 de março de 2024

 POETAS DE PARABÉNS

ALEXANDRE HERCULANO





RESIGNAÇÃO

No teu seio, reclinado
Dormirei, Senhor, um dia,
Quando for na terra fria
Meu repouso procurar;

Quando a lousa do sepulcro
Sobre mim tiver caído,
E este espírito afligido
Vir a tua luz brilhar!

No teu seio, de pesares
O existir não se entretece;
Lá eterno o amor florece;
Lá florece eterna paz:

Lá bramir junto ao poeta
Não irão paixões e dores,
Vãos desejos, vãos temores
Do desterro em que ele jaz.

Hora extrema, eu te saúdo!
Salve, ó trevas da jazida,
Donde espera erguer-se à vida
Meu espírito imortal!

Anjo bom, não me abandones
Neste trance dilatado;
Que contrito, resignado,
Me acharás na hora fatal.

E depois... Perdoa, ó anjo,
Ao amor do moribundo,
Que só deixa neste mundo
Pouco pó, muito gemer.

Oh... Depois... Diz à mesquinha
Um segredo de doçura:
Que na pátria o amor se apura,
Que o desterro viu nascer.

Que é o Céu a pátria nossa;
Que é o mundo exílio breve;
Que o morrer é cousa leve;
Que é princípio, não é fim:

Que duas almas que se amaram
Vão lá ter nova existência,
Confundidas numa essência,
A de um novo querubim.

Alexandre Herculano







 De seu nome completo Alexandre Herculano de Carvalho Araújo nasceu em Lisboa, 
em 28 de março de 1810 e faleceu no seu retiro de Santarém, em 13 de setembro de 1877.
        Notabilizou-se como historiador, dramaturgo, jornalista e poeta da era do Romantismo.
        Defendeu a causa liberal, pela qual lutou militarmente tendo participado no Cerco do Porto.
        Acabou por recusar as honrarias que lhe foram concedidas.

sábado, 2 de março de 2024

 POEMAS POR TEMAS

SILÊNCIO




           Tema: Silêncio



O Silêncio

Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.

Eugénio de Andrade







        De seu nome completo José Fontinhas, notabilizou-se nas letras como poeta usando o
 pseudónimo de Eugénio de Andrade.
        Natural da Póvoa da Atalaia, na província da Beira Baixa, escolheu a cidade do Porto 
para viver. Fui seu vizinho durante muitos anos.
        Óscar Lopes considerou-o o grande poeta do amor do séc. XX.
        Os seus poemas são de grande valor estético associado a uma imagética variada.