quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

 3º ENCONTRO TEMÁTICO

POEMA DE NATAL




        Com o decorrer do mês de dezembro vai-se aproximando a festa do Natal.
        A exemplo dos anos anteriores gostaria de convidar todos os amigos visitantes, leitores, comentadores e escritores a participarem nesta iniciativa com trabalhos alusivos à efeméride.

        Os interessados deverão:

        -- postar o texto no seu blog, antecedido do distintivo pictográfico apresentado.

        Saudações natalícias,

        Juvenal Nunes




Participantes:

1ª - Chica - Natal e Presença

quarta-feira, 29 de novembro de 2023



 O ROMANTISMO

CAMILO CASTELO BRANCO




Perdida!

Veloz, qual flecha impelida
O meu cavalo corria…
Eu tinha a febre da raiva,
Abrasava-me a agonia,
E o cavalo generoso
O meu ódio concebia.

Os precipícios transpunha
Sem as rédeas sofrear!
Longe, ao longe eu ansiava
Este horizonte alargar;
Procurava mundos novos,
Faltava-me ali o ar.

E, de relance, deviso
Linda flor em ermo Val,
Mal aberta, e aljofrada
Pelo orvalho matinal,
Reacendendo solitária
Seu perfume virginal.

Nenhum homem lhe tocara,
Nem talvez a vira ali!
Tive orgulho de encontrá-la,
Que outra mais bela não vi.
Mas o ímpeto indomável
Do cavalo não venci.

E perdi-a! Não me lembro
Onde vi tão linda flor!
Sei que lá me fica a alma
Como um feudo pago à dor.
Outros lábios virão dar-lhe
Férvido beijo d’amor.

Camilo Castelo Branco  







         Camilo Castelo Branco é natural de Lisboa, onde viu a luz do dia aos 16 de março
de 1825, tendo vindo a falecer em S. Miguel de Seide, em 1 de junho de 1890.
        Escritor genial, tornou-se, por dificuldades económicas, no primeiro escritor
profissional português.
        Do seu trabalho resultou uma obra incomensurável, na prosa principalmente, mas
também se destacou na poesia.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

 POETAS DE PARABÉNS

SOPHIA DE MELLO BREYNNER ANDRESEN



Fundo do Mar

                No fundo do mar há brancos pavores,
               Onde as plantas são animais
               E os animais são flores.
 

              Mundo silencioso que não atinge
              A agitação das ondas.
              Abrem-se rindo conchas redondas,
              Baloiça o cavalo-marinho.
              Um polvo avança
              No desalinho
              Dos seus mil braços,
              Uma flor dança,
              Sem ruído vibram os espaços.
 

              Sobre a areia o tempo poisa
              Leve como um lenço.
 

              Mas por mais bela que seja cada coisa
              Tem um monstro em si suspenso.

            Sophia de Mello Breynner Andresen






        Sophia de Mello Breynner Andresen viu a luz do dia no Porto, em 6 de novembro de 
1919 e viria a falecer em Lisboa, em 2 de julho de 2004.
        É considerada uma das mais importantes poetisas portuguesas do séc. XX tendo recebido 
o Prémio Camões em 1999.
        Notabilizou-se, também, como contista escrevendo livros para a infância.
        Jaz sepultada no Panteão Nacional, em Lisboa.


domingo, 12 de novembro de 2023

 SOLICITUDE



Solicitude

Calcorreio veredas e caminhos
Por onde esvoaçam as mariposas,
Leves, breves asas silenciosas,
Desferindo no ar doces carinhos.

Escuto o som dos meus passos sozinhos
Nas íngremes ladeiras declivosas,
Aspiro o ar das perfumadas rosas,
Pressinto a vida no calor dos ninhos.

Nervosas, as mãos, numa prece, oram
Por todos aqueles que na dor choram,
Na vida condenados ao degredo;

Num gesto solidário eu ergo os braços
Querendo envolver todos os espaços,
Num último esforço, banir o medo.

Juvenal Nunes



domingo, 5 de novembro de 2023

 POEMAS POR TEMAS

MIGUEL TORGA



Tema: Liberdade


Liberdade 

-- Liberdade, que estais no céu…
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

-- Liberdade, que estais na terra…
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
-- Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga




        Miguel Torga nasceu em S. Martinho de Anta em 12 de agosto de 1907 e faleceu
em Coimbra, em 17 de janeiro de 1995.
        Oriundo de uma família humilde que trabalhava na agricultura, começou a trabalhar
com 10 anos de idade. Após uma curta passagem pelo seminário emigrou para
o Brasil aos treze anos para trabalhar numa fazenda de café, pertencente a um tio.
Devido à sua enorme capacidade de aprendizagem o tio permitiu-lhe que ´prosseguisse os
estudos, no Brasil. Cinco anos volvidos regressa a Portugal, conclui os estudos liceais
e acaba por se licenciar em Medicina, na Universidade de Coimbra.
        Médico de profissão, dedicou-se intensamente à atividade literário tornando-se num dos
grandes escritores do séc. XX português, tanto na prosa como na poesia.
        Embora nomeado para o Prémio Nobel nunca chegou a receber esta distinção. Contudo, 
dentre os vários prémios com que foi agraciado consta o Prémio Camões, o mais importante 
da língua portuguesa.


domingo, 29 de outubro de 2023

 O ROMANTISMO

ALEXANDRE HERCULANO





A Graça

Que harmonia suave
É esta, que na mente
Eu sinto murmurar,
Ora profunda e grave,
Ora meiga e cadente,
Ora que faz chorar?
Porque da morte a sombra,
Que para mim em tudo
Negra se reproduz,
Se aclara, e desassombra
Seu gesto carrancudo,
Banhada em branda luz?
Porque no coração
Não sinto pesar tanto
O férreo pé da dor,
E o hino da oração,
Em vez de irado canto,
Me pede íntimo ardor?

És tu, meu anjo, cuja voz divina
Vem consolar a solidão do enfermo,
E a contemplar com placidez o ensina
De curta vida o derradeiro termo?

Oh, sim!, és tu, que na infantil idade,.
Da aurora à frouxa luz,
Me dizias: «Acorda, inocentinho,
Faz o sinal da Cruz.»
És tu, que eu via em sonhos, nesses anos
De inda puro sonhar,
Em nuvem d'ouro e púrpura descendo
Coas roupas a alvejar.
És tu, és tu!, que ao pôr do Sol, na veiga,
Junto ao bosque fremente,
Me contavas mistérios, harmonias
Dos Céus, do mar dormente.
És tu, és tu!, que, lá, nesta alma absorta
Modulavas o canto,
Que de noite, ao luar, sozinho erguia
Ao Deus três vezes santo.
És tu, que eu esqueci na idade ardente
Das paixões juvenis,
E que voltas a mim, sincero amigo,
Quando sou infeliz.
Sinta a tua voz de novo,
Que me revoca a Deus:
Inspira-me a esperança,
Que te seguiu dos Céus!...

Alexandre Herculano






        De seu nome completo Alexandre Herculano de Carvalho Araújo nasceu em Lisboa, 
em 28 de março de 1810 e faleceu no seu retiro de Santarém, em 13 de setembro de 1877.
        Notabilizou-se como historiador, jornalista e poeta da era do Romantismo.
        Defendeu a causa liberal, pela qual lutou militarmente tendo participado no Cerco do Porto.
        Acabou por recusar as honrarias que lhe foram concedidas.

domingo, 22 de outubro de 2023

 POETAS DE PARABÉNS

RUI PIRES CABRAL




A Nossa Vez

É o frio que nos tolhe ao domingo
no Inverno, quando mais rareia
a esperança. São certas fixações
da consciência, coisas que andam
pela casa à procura de um lugar

e entram clandestinas no poema.
São os envelopes da companhia
da água, a faca suja de manteiga
na toalha, esse trilho que deixamos
atrás de nós e se decifra sem esforço
nem proveito. É a espera

e a demora. São as ruas sossegadas
à hora do telejornal e os talheres
da vizinhança a retinir. É a deriva
noturna da memória: é o medo
de termos perdido sem querer

a nossa vez.

Rui Pires Cabral







        Rui Pires Cabral é um poeta português nascido a 1 de outubro de 1967, em Chacim, aldeia 
de Macedo de Cavaleiros.
        Publicou vários livros de poesia, sendo que o primeiro ocorreu em 1985 e intitulava-se Qualquer Coisa Estranha.
        A sua obra poética oscila entre um cosmopolitismo consciente em contraste com o 
mundo rural que lhe deu o ser.