quarta-feira, 23 de abril de 2025

 REVOLUÇÃO






Revolução

O mês de abril foi sereno,
Marcha lenta subtil,
O País num só terreno,
Por razões bem mais que mil,
Teve adesão não servil.

Vestidos numa só farda,
Pelas ruas ocupadas
Não há fogo de espingarda;
Todo o povo de mãos dadas
Pelos cravos perfimadas
Assume em serenidade
A hora da Liberdade.

MFA e mais o povo,
Numa nova união,
Assumem algo de novo,
Fazem a revolução
Em prol da mesma nação.

Juvenal Nunes





O 25 de abril de 1974 restituiu a Liberdade ao povo português, cujo regime passou a governar
em Democracia.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

 POEMAS POR TEMAS

LIBERDADE




Liberdade

A liberdade é uma palavra
que o sonho humano alimenta:
não há ninguém que a não diga
nem quem a não sinta.

É como o sol que nos acorda
e nos beija a cada dia:
não há ninguém que o não veja
nem quem o não queria.

É como o mar que nos embala
e nos leva para longe:
não há ninguém que o não ouça
nem quem não o ponha onde.

A sua sede nos aperta
e a sua angústia mais se alonga:
a liberdade é uma palavra
que a esperança prolonga.

Natália Correia






Natália Correia, de seu nome completo Natália de Oliveira Correia, nasceu na Fajã de
           Baixo, ilha de S. Miguel, nos Açores e faleceu em Lisboa a 16 de março de 1993.
Foi uma inflamada poeta tendo deixado uma obra numerosa e valiosa que lhe valeu a
atribuiçãode vários galardões pelo reconhecimento do seu trabalho poético.
      Chegou a ser deputada no Parlamento Português. Foi, também, uma dinamizadora ativa de
várias tertúlias literárias. 

quarta-feira, 9 de abril de 2025

 O PARNASIANISMO

TEÓFILO BRAGA





A DOBADOIRA


Estava à porta assentada,
dobando a sua meada
A velhinha:
Lenço branco na cabeça
A madeixa lhe sustinha,
E envolve-a a como toalha;
Com que pressa
Sentada à porta trabalha.

O sol doira
Seu cabelo,
Que tem a cor da geada;
Para passar o novelo,
A velhinha
De vez em quando sustinha
A gemente dobadoira;
Em que anda branca meada.

Na dobadoira que gira,
Como a mente que delira,
Nem já toda a atenção pondo;
Nem no novelo redondo
Aumentando
Ao passo que o fio tira,
Todo o seu cuidado emprega!
Pobre e cega,
Ansiada, de quando em quando
Com que tristeza suspira!

Por vezes o movimento
Claro exprime
Tumultuar do pensamento,
Que no imo da alma a oprime
E quase oura!
Muita angústia e paciência
Reflete-a a intermitência
Do andamento
Ao voltear da dobadoira.

Fica-lhe na mão suspensa
O novelo,
Concentrada não o enleia;
Na órfã netinha pensa!...
Vem-lhe à ideia
Por sua morte:
"Só, no mundo! Entregue à sorte!
Pobre neta...
Pesadelo,
Que tanto a velhinha inquieta.

Não ouvindo a dobadoira,
Que gemia intermitente,
Caindo da mão dormente
O novelo...
Com desvelo,
A neta, cabeça loira,
Vem à porta
Ver o que foi; com susto olha:
Uma lágrima inda molha
A face à velhinha morta.

 Teófilo Braga 





        
        Teófilo Braga nasceu em Ponta Delgada no dia 24 de fevereiro de 1843 e faleceu em Lisboa
a 28 de janeiro de 1924.
        Além de poeta, atingiu a notoriedade como político tendo sido o 2º Presidente da República Portuguesa.
        Não sendo uma figura de proa do Parnasianismo o seu trabalho também se encontra associado
a este movimento poético-literário.


quarta-feira, 2 de abril de 2025

 POETAS DE PARABÉNS

MANUEL BANDEIRA




Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

– Eu faço versos como quem morre.

Manuel Bandeira






        Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, de seu nome completo, nasceu em Recife aos 
19 de abril de 1886 e faleceu no Rio de Janeiro a 13 de outubro de 1968.
        Consagrou-se como escritor na área da poesia.
        Fez parte da geração do modernismo do Brasil.
        A sua reputação permitiu-lhe ser eleito para a Academia Brasileira de Letras.

domingo, 23 de março de 2025

 

Semana Comemorativa do Dia Mundial da Poesia






Amor e Poesia

A hora da poesia
Passa a qualquer momento,
Mas festeja o seu dia
Do vernal no advento.

Já reverdecem as franças,
Renova-se a natureza,
Desfazem-se as tuas tranças
Cobrindo tua beleza.

Primavera e poesia
Convivem no mesmo elo,
Mantendo a sintonia
Com o amor no mesmo anelo.

E assim no mesmo passo,
Numa aura de magia,
Eu amo no teu abraço
A hora da poesia.

Juvenal Nunes




domingo, 16 de março de 2025

 POEMAS POR TEMAS

JOÃO XAVIER DE MATOS



Tema : Alegria

Que assim Sai a Manhã

Que assim sai a manhã, serena e bela!
Como vem no horizonte o sol raiando!
Já se vão os outeiros divisando,
já no céu se não vê nenhuma estrela.

Como se ouve na rústica janela
do pátrio ninho o rouxinol cantando!
Já lá vai para o monte o gado andando,
já começa o barqueiro a içar a vela.

A pastora acolá, por ver o amante,
com o cântaro vai à fonte fria;
cá vem saindo alegre o caminhante;

Só eu não vejo o rosto da alegria:
que enquanto de outro sol morar distante,
não há-de para mim nascer o dia.

João Xavier de Matos








        João Xavier de Matos é o nome de um poeta português que nasceu em Lisboa, por volta 
da 3ª década do séc. XVIII e faleceu em Vila de Frades, em 3 de novembro de 1789.
        Com o pseudónimo de Albano Eritreu fez parte da Arcádia Portuense.
        Ao estilo de Camões evidenciou-se na poesia bucólica e foi sonetista.

sexta-feira, 7 de março de 2025



 O PARNASIANISMO

CESÁRIO VERDE





Eu e Ela

Cobertos de folhagem, na verdura,
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura;

Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados.
Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Beijarão meigamente a tua trança.

Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más idéias,
Esquecendo para sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos.

Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
Dos mistérios que estão para além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.

Outras vezes buscando distração,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiro,
Formando unicamente um coração.

Beatos ou pagãos, vida à paxá,
Nós leremos, aceita este meu voto,
O Flos-Sanctorum místico e devoto
E o laxo Cavaleiro de Faublas...

Cesário Verde






        Cesário Verde nasceu em Lisboa, em 25 de fevereiro de 1855 e faleceu na mesma cidade 
em 19 de julho de 1886. Partiu precocemente, aos 31 anos de idade, ceifado pela tuberculose 
pulmonar, que o atacou.
        Trata-se de um poeta de rara sensibilidade com um estilo poético muito peculiar e 
inovador.
        A sua obra retrata, atentamente, o quotidiano, numa constante dicotomia entre a cidade e o 
campo.