terça-feira, 30 de março de 2021

 POETAS DE PARABÉNS

EUGÉNIO DE CASTRO




                                                                                                   
 


Três Rosas

Sempre, mas sobretudo nas brumosas
Horas da tarde, quando acaba o dia,
Quando se estrela o céu, tenho a mania
De descobrir, de ver almas nas cousas.

Pendem deste gomil três lindas rosas;
Uma é rosada, a outra branca e fria,
Rubra a terceira; e a minha fantasia
Torna-as humanas, vivas, amorosas.

Sei que são rosas, rosas só! mas nada
Impede, enquanto cai lá fora a chuva,
Que a minha mente a fantasiar se ponha:

Por ser noiva a primeira, é que é rosada;
Branca a segunda está, por ser viúva;
A vermelha pecou ... e tem vergonha!


                  Eugénio de Castro



  

        Natural de Coimbra, onde nasceu em 4 de março de 1869, faleceu na mesma cidade em 17 de agosto de 1944.
        O seu livro de poemas Oaristos credibilizou-o como grande poeta e representante do Simbolismo  em Portugal. Já no século XX enveredou por uma faceta neoclássica.
        Ao longo de toda a sua vida colaborou em inúmeras publicações periódicas.
        Foi agraciado com o grau de Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant`Iago da Espada.


sábado, 20 de março de 2021




Andorinha

Chego com a primavera,
Encho o ar com os meus gorjeios,
Percorro todo o espaço,
Em liberdade esvoaço,
Faço mais de mil volteios.
Sou o sonho e a quimera
De um tem tempo remoçado,
Que em cada ano de espera
Cada ano é renovado.

        Juvenal Nunes







        Às 9 horas e 37 minutos de hoje, chegou a Primavera.

sábado, 13 de março de 2021

POESIA PALACIANA



Cantiga de Nuno Pereira quando casou com D. Isabel


Somos ũa cousa nós,

em ambos ũa soo fim,

eu nam sam em mim sem vós,

nem vós nam estais sem mim.

 

Em ambos ũa soo vida

a como cahir em soorte,

que nam pode ser partida

antre nós vida nem morte.

Todo o ser que for de nós

de qualquer cousa em fim,

eu nam sam em mi sem vós,

nem vós nunca soo sem mim.


            Nuno Pereira






        Nuno Pereira foi um poeta palaciano português, que nasceu por volta de 1455.
        Quando jovem, foi íntimo do futuro rei D. João II, com quem conviveu na corte.
        A sua obra encontra-se incluída no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende.



sábado, 6 de março de 2021

 CORRENTES d`ESCRITAS 2021



        Com o nome em epígrafe realizou-se, nos dias 26 e 27 de fevereiro passado, um festival
 literário na Póvoa de Varzim, pelo 22º ano consecutivo. Devido às condições impostas pela
 pandemia o evento decorreu online.
        O festival deste ano homenageou o escritor chileno Luís Sepúlveda, pelo legado da sua
 oba. O autor, que estivera presente no festival do ano transato, viria a falecer algum tempo 
depois vítima do Covid-19.
        Este ano, o Prémio Literário Casino da Póvoa, foi atribuído à poetisa portuguesa Maria
 Teresa Horta, pela obra Estranhezas.



Os Silêncios da Fala

São tantos
os silêncios da fala
De sede
De saliva
De suor

Silêncios de sílex
no corpo do silêncio
Silêncios de vento
de mar
e de torpor
De amor

Depois, há as jarras
com rosas de silêncio
Os gemidos
nas camas
As ancas
O sabor

O silêncio que posto
em cima do silêncio
usurpa do silêncio o seu magro labor.

Maria Teresa Horta






        Maria Teresa Horta é natural de Lisboa, onde nasceu em 29 de maio de 1937.
É uma consagrada poetisa portuguesa, largamente homenageada e premiada.
Nos seus antepassados conta-se a também célebre poetisa Marquesa de Alorna (sécs.
17 e 18).
        Para além da sua obra literária, a sua vida destacou-se, também, como membro
ativo de um projeto feminista, enquanto chefe de redação da revista Mulheres.