sábado, 28 de agosto de 2021

 POETAS DE PARABÉNS

MIGUEL TORGA






Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga







        Miguel Torga nasceu em S. Martinho de Anta em 12 de agosto de 1907 e faleceu 
em Coimbra, em 17 de janeiro de 1995.
        Oriundo de uma família humilde que trabalhava na agricultura, começou a trabalhar 
com 10 anos de idade. Após uma curta passagem pelo seminário emigrou  para 
o Brasil aos treze anos para trabalhar numa fazenda de café, pertencente a um tio.
Devido à sua enorme capacidade de aprendizagem o tio permitiu-lhe que ´prosseguisse os
 estudos, no Brasil. Cinco anos volvidos regressa a Portugal, conclui os estudos liceais 
e acaba por se licenciar em Medicina, na Universidade de Coimbra.
        Médico de profissão, dedicou-se intensamente à atividade literário tornando-se num dos
grandes escritores do séc.  XX português, tanto na prosa como na poesia.
        Largamente premiado pela sua obra literário recebeu também o Prémio Camões,
o mais importante na língua portuguesa.


segunda-feira, 23 de agosto de 2021

  XII Interação Fraterna

Rosélia Bezerra



Aniversário do blog "Idade Espiritual"

É sugestiva a imagem
Do caminho emoldurado,
Que perfuma a paisagem
Dum cenário encantado.

Passaram-se doze anos,
Largos meses, muitas horas,
Venceram-se desenganos
São justos os meus emboras.

Minha crença seja dita
Os doze não são demais
E toda a gente acredita
Que hão-de vir muitos mais.

Mantenha o blog de pé,
Com caráter, atitude,
Expressando sua fé
Numa vida com saúde.

Juvenal Nunes

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

 POEMAS POR TEMAS




Tema: Sonho


Vaidade

Sonho que sou a Poetisa eleita, 
Aquela que diz tudo e tudo sabe, 
Que tem a inspiração pura e perfeita, 
Que reúne num verso a imensidade! 

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho...E não sou nada!...

Florbela Espanca




        Florbela Espanca, reconhecida figura cimeira das letras portuguesas,
notabilizou-se como exímia sonetista.
        Alentejana natural de Vila Viçosa, desistiu de viver em Matosinhos.

segunda-feira, 9 de agosto de 2021




Velejar

Já sopra o vento mareiro,
Iça a âncora do cais,
Solta a vela marinheiro,
Deixa atrás os areais.

Uma onda enrolada,
Levada pelas marés,
Abraça a areia molhada
Ao meu amor beija os pés.

Insufla a vela ao vento,
Balança a barca no mar,
O vento a todo o momento
Faz a barca bolinar.

Lenço branco a acenar,
Longe, na praia deserta,
Barca a vogar no mar
Minhas saudades aperta.

Insufla a vela ao vento
Soprando a todo o momento
Faz vogar a caravela,
Invadido num tormento,
Mão em concha sobre a fronte
A temer qualquer procela
Deixo atrás o horizonte
Com o sol a arroxear
Em painel de maravilha,
Sulca as águas a quilha,
Tenho pressa de voltar
No sonho de te abraçar.


Juvenal Nunes





segunda-feira, 2 de agosto de 2021

 HOMENAGEM PÓSTUMA 

A

PEDRO TAMEN (1934-2021)



E é a tua sombra, e é e se desfaz

E é a tua sombra, e é e se desfaz,
se faz raiz e grão
no que te tenho aqui.
O dedo de penumbra que me dás
aumenta a minha mão
e tem-me em ti.

Chocalha agora a tarde nas coleiras
de ovelhas indiferentes;
tudo com elas fica, e as oliveiras,
não vistas, mas presentes.
Abafo-me com isto; ao seu calor
o nosso sangue é um e amadurece.
Boa-noite, meu amor.
Boa-noite, que amanhece.

          Pedro Tamen








     Nascido em Lisboa em 01 de dezembro de 1934, Pedro Tamen faleceu no passado 
dia 29 de julho de 2021, em Setúbal.
     Notabilizou-se como poeta e tradutor. Ao longo da sua vida foi agraciado com inúmeros 
prémios, tanto ao nível da arte poética como da tradução.
     A ministra da Cultura de Portugal classificou-o como «figura maior da literatura portuguesa».
Poeta contemporâneo de virtudes clássicas, foi também  promotor de vários projetos
culturais.