POEMAS POR TEMAS
Passei o dia ouvindo o que o mar dizia
Eu ontem passei o diaOuvindo o que o mar dizia.
Choramos, rimos, cantamos.
Falou-me do seu destino,
Do seu fado…
Depois, para se alegrar,
Ergueu-se, e bailando, e rindo,
Pôs-se a cantar
Um canto molhado e lindo.
O seu hálito perfuma,
E o seu perfume faz mal!
Deserto de águas sem fim.
Ó sepultura da minha raça
Quando me guardas a mim?…
Ele afastou-se calado;
Eu afastei-me mais triste,
Mais doente, mais cansado…
Ao longe o Sol na agonia
De roxo as águas tingia.
«Voz do mar, misteriosa;
Voz do amor e da verdade!
– Ó voz moribunda e doce
Da minha grande Saudade!
Voz amarga de quem fica,
Trémula voz de quem parte…»
. . . . . . . . . . . . . . . .
E os poetas a cantar
São ecos da voz do mar!
António Boto
Esteve emigrado em Angola, na Itália e no Brasil, onde faleceu.
A sua obra mereceu a atenção de Fernando Pessoa.
A lírica portuguesa reconheceu nas Canções a sua obra mais popular.