segunda-feira, 27 de março de 2023

 POETAS DE PARABÉNS 

CAMILO CASTELO BRANCO







ANEL

Dá-me um anel; mas que seja
Como o anel em que cingida
Tem gemido toda a minha vida.
Dá-me um anel; mas de ferro,
Negro, bem negro, da cor
Desta minha acerba dor,
Deste meu negro desterro!

Dá-me um anel; mas de ferro...
Sempre comigo hei-de tê-lo;
Há-de ser o negro elo,
Que me prenda à sepultura.
Quero-o negro...seja o estigma,
Que decifre o escuro enigma,
Duma grande desventura.

Dá-me um anel; mas de ferro,
Que resista mais que os ossos
Dum cadáver aos destroços
Do roaz verme do pó.
Entre as cinzas alvacentas,
Como espólio das tormentas
Apareça o ferro só.

E o teu nome impresso nele,
Falará dum grande amor,
Nutrido em ânsias de dor,
Pelo fel da sociedade...
Que teu nome nele escrito,
Nesse padrão infinito,
Vá comigo à Eternidade.

Camilo Castelo Branco








        Camilo Castelo Branco é natural de Lisboa, onde viu a luz do dia aos 16 de março
de 1825, tendo vindo a falecer em S. Miguel de Seide, em 1 de junho de 1890.
        Escritor genial, tornou-se, por dificuldades económicas, no primeiro escritor
profissional português.
        Do seu trabalho resultou uma obra incomensurável, na prosa principalmente, mas
também se destacou na poesia.

sexta-feira, 17 de março de 2023

 VIVER A ESPERANÇA





Viver a Esperança

Eis que volta a primavera,
Tempo de renovação,
Nesse tempo quem me dera
Viver com nova emoção.

Há no perfume das flores,
Quadros de enorme beleza,
Telas de várias cores
Que nos dá a natureza.

As aves de arribação
De presença dão sinais,
Deixam no ar a canção
Que espalham sobre os pinhais.

No aconchego dos ninhos,
Entre alegre melodia,
Pássaros trocam carinhos
Numa perfeita harmonia.

Os sinais da natureza
Duma vida renovada
Aos homens dão a certeza
Duma vida limitada.

A natureza comprova
Toda a nossa finitude,
O homem não se renova,
Não possui essa virtude.

No seu abraço de cor,
Que a natureza consente,
Quero manter a atitude
De viver sempre em amor
Que harmoniza o ambiente,
Nos conduz à plenitude.

        Juvenal Nunes





sexta-feira, 10 de março de 2023

 POEMAS POR TEMAS

ESPERANÇA


                                                                         
      Tema: Esperança


Esperança

Tantas formas revestes, e nenhuma
Me satisfaz!
Vens às vezes no amor, e quase te acredito.
Mas todo o amor é um grito
Desesperado
Que apenas ouve o eco…
Peco
Por absurdo humano:
Quero não sei que cálice profano
Cheio de um vinho herético e sagrado. 

Miguel Torga









        Miguel Torga nasceu em S. Martinho de Anta em 12 de agosto de 1907 e faleceu 
em Coimbra, em 17 de janeiro de 1995.
        Oriundo de uma família humilde que trabalhava na agricultura, começou a trabalhar 
com 10 anos de idade. Após uma curta passagem pelo seminário emigrou  para 
o Brasil aos treze anos para trabalhar numa fazenda de café, pertencente a um tio.
Devido à sua enorme capacidade de aprendizagem o tio permitiu-lhe que ´prosseguisse os
 estudos, no Brasil. Cinco anos volvidos regressa a Portugal, conclui os estudos liceais 
e acaba por se licenciar em Medicina, na Universidade de Coimbra.
        Médico de profissão, dedicou-se intensamente à atividade literário tornando-se num dos
grandes escritores do séc.  XX português, tanto na prosa como na poesia.
        Largamente premiado pela sua obra literário recebeu também o Prémio Camões,
o mais importante na língua portuguesa.

sexta-feira, 3 de março de 2023

 A NOVA ARCÁDIA

CURVO SEMEDO




Soneto

Lília enquanto não foge a fresca tarde
Desce às margens frondosas deste pego,
Vem ver quem de saudades louco, e cego
Pela doçura de teus olhos arde.


Atende aos rogos dum Amor cobarde,
Que te chama do rio em que navego:
Vem, ou pôr termo ao pranto a que me entrego,
Ou do teu desamor fazer alarde.

 

Assim clamava Alzeu, que a Lília adora,
Eis como entanto, duma algosa gruta
Ouve dizer com voz clara, e sonora:

 

Não chames, Pescador, quem não te escuta:
Lília nos braços de Belmiro agora,
Quanto há doce em Amor, tanto disfruta.


Curvo Semedo









        De seu nome completo Belchior Manuel Curvo Semedo Torres de Sequeira, nasceu em
Montemor-o-Novo em 15 de março de 1766, tendo vindo a falecer em Lisboa em 28 de
dezembro de 1838.
        Representa um dos mais importantes elementos do movimento literário
Nova Arcádia, no qual usou o pseudónimo de Belmiro Transtagano.
        A sua obra está impressa nas Composições Poéticas, tendo traduzido, em verso, As Melhores
Fábulas de La Fontaine.