domingo, 16 de março de 2025

 POEMAS POR TEMAS

JOÃO XAVIER DE MATOS



Tema : Alegria

Que assim Sai a Manhã

Que assim sai a manhã, serena e bela!
Como vem no horizonte o sol raiando!
Já se vão os outeiros divisando,
já no céu se não vê nenhuma estrela.

Como se ouve na rústica janela
do pátrio ninho o rouxinol cantando!
Já lá vai para o monte o gado andando,
já começa o barqueiro a içar a vela.

A pastora acolá, por ver o amante,
com o cântaro vai à fonte fria;
cá vem saindo alegre o caminhante;

Só eu não vejo o rosto da alegria:
que enquanto de outro sol morar distante,
não há-de para mim nascer o dia.

João Xavier de Matos








        João Xavier de Matos é o nome de um poeta português que nasceu em Lisboa, por volta 
da 3ª década do séc. XVIII e faleceu em Vila de Frades, em 3 de novembro de 1789.
        Com o pseudónimo de Albano Eritreu fez parte da Arcádia Portuense.
        Ao estilo de Camões evidenciou-se na poesia bucólica e foi sonetista.

sexta-feira, 7 de março de 2025



 O PARNASIANISMO

CESÁRIO VERDE





Eu e Ela

Cobertos de folhagem, na verdura,
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura;

Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados.
Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Beijarão meigamente a tua trança.

Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más idéias,
Esquecendo para sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos.

Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
Dos mistérios que estão para além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.

Outras vezes buscando distração,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiro,
Formando unicamente um coração.

Beatos ou pagãos, vida à paxá,
Nós leremos, aceita este meu voto,
O Flos-Sanctorum místico e devoto
E o laxo Cavaleiro de Faublas...

Cesário Verde






        Cesário Verde nasceu em Lisboa, em 25 de fevereiro de 1855 e faleceu na mesma cidade 
em 19 de julho de 1886. Partiu precocemente, aos 31 anos de idade, ceifado pela tuberculose 
pulmonar, que o atacou.
        Trata-se de um poeta de rara sensibilidade com um estilo poético muito peculiar e 
inovador.
        A sua obra retrata, atentamente, o quotidiano, numa constante dicotomia entre a cidade e o 
campo.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

 POETAS DE PARABÉNS

JOAQUIM PESSOA







Houve uma Ilha em Ti

Houve uma ilha em ti que eu conquistei.
Uma ilha num mar de solidão.
Tinha um nome a ilha onde morei.
Chamava-se essa ilha Coração.

Que saudades do tempo que passei.
Nenhum desses momentos foi em vão.
Do teu corpo, de ti, já nada sei.
Também não sei da ilha, não sei, não.

Só sei de mim, coberto de raízes.
Enterrei os momentos mais felizes.
Vivo agora na sombra a recordar.

A ilha que eu amei já não existe.
Agora amo o céu quando estou triste
por não saber do coração do mar.

Joaquim Pessoa




        

        Joaquim Pessoa nasceu no Barreiro em 22 de fevereiro de 1948 e faleceu na mesma cidade em 17 de abril de 2023. Além de artista plástico, publicitário e estudioso de arte pré-histórica portuguesa é aqui recordado como poeta. Nesta área foram-lhe atribuídos vários prémios, estando traduzido em várias línguas.
        Escreveu inúmeras letras para artistas portugueses sendo a sua principal obra O Livro da Noite.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

 HOMENAGEM A MARIA TERESA HORTA


        Em 4 de fevereiro de 2025 faleceu em Lisboa a poetisa, jornalista e ativista portuguesa Maria Teresa Horta. A sua ausência física substitui-se à sua obra, que perdurará.






Segredo

Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça

nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa

Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço

Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar

nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar

Maria Teresa Horta





        Mulher controversa, porque se revelou inconformada ativista, o seu trabalho literário mereceu, em vida, vários prémos e condecorações dos quais se destacam, entre muitos outros:
    2011 - o Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus;
    2022 - condecorada a 21 de abril com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

 RESCALDO 

DA 4ª CELEBRAÇÃO DE S. VALENTIM

A SETA DE CUPIDO




        Hoje é o dia em que encerra o desafio proposto da Celebração de S. Valentim.
        Aos participantes, em primeiro lugar, quero agradecer todo o seu empenho e disponibilidade na escrita dos prestimosos trabalhos, que dão corpo à iniciativa.
        Seguidamente, agradeço também àqueles leitores que, com o seu comentário, ajudam a dinamizar o espírito do desafio.
        Um grande bem haja para todos.

        Muito obrigado.

        Juvenal Nunes




terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

 DIA DOS NAMORADOS

4ª CELEBRAÇÃO DE S. VALENTIM

A SETA DE CUPIDO






Dia dos Namorados

A caminhar no jardim
Seguem juntos de mãos dadas,
O perfume do jasmim
Deixa as almas incensadas.

No compasso desse passo
Sob verde baldaquino
Por cada sentido abraço
Vai-se vincando o destino.

Pelas áleas perfumadas,
Por onde se abre o caminho,
As almas apaixonadas
Mostram sinais de carinho.

O amor é uma aventura,
Que se busca com sentido,
Vestido com a ternura
Pela seta de Cupido.

Juvenal Nunes




quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

 4ª CELEBRAÇÃO DE S. VALENTIM

A SETA DE CUPIDO


         O Dia dos Namorados comemora-se no dia 14 de fevereiro e tem como padroeiro S. Valentim.
        Gostaria de propor, a todos os escritores visitantes, a escrita de um poema sobre a referida efeméride.

        Quem quiser participar deverá:

       -- postar o texto no seu blog, antecedido do distintivo pictográfico apresentado.

       Saudações poéticas.



        Juvenal Nunes


Participantes:


Rosélia Bezerra: Do Enamoramento


Ana Tapadas: Ao Amor 

Olinda Melo (Mário Margaride): O Amor Na Sua Plenitude


Maria Rodrigues: A Seta de Cupido

Juvenal Nunes: Dia dos Namorados

Mário Margaride: O Nosso Encontro

J. P. Alexander: Eu Amo-te



sábado, 1 de fevereiro de 2025

 PPOEMAS POR TEMAS

ESPERANÇA





Espera

Dei-te a solidão do dia inteiro.
Na praia deserta, brincando com a areia,
No silêncio que apenas quebrava a maré cheia
A gritar o seu eterno insulto,
Longamente esperei que o teu vulto
Rompesse o nevoeiro

Sophia de Mello Breyner Andresen






        Sophia de Mello Breyner Andresen é uma poetisa natural do Porto, onde nasceu
em 5 de novembro de 1919 e faleceu em Lisboa em 2 de julho de 2004.
        Foi mãe do jornalista e escritor Miguel Sousa tavares.
        Foi tradutora e o seu talento manifestou-se também na prosa, tendo escrito livros
de contos infantis.
        Foi a primeira mulher portuguesa a receber, em 1999, o Prémio Camões.
        Encontra-se sepultada no Panteão Nacional.

sábado, 25 de janeiro de 2025

 O PARNASIANISMO

ANTÓNIO FEIJÓ







O Amor e o Tempo

Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

— «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
— «Porque voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» — Nesse momento,

Volta-se o Amor e diz com azedume:
— «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!

António Feijó





        António de Castro Feijó nasceu em Ponte de Lima a 1 de junho de 1859 e faleceu 
em Estocolmo a 20 de junho de 1917. A sua obra assume um papel marcante no Parnasianismo.
        É licenciado em Direito e foi diretor, em parceria, da Revista Científica e Literária.
        Além de poeta, exerceu diversos cargos na carreira diplomática.

sábado, 18 de janeiro de 2025

 POETAS DE PARABÉNS

AFONSO DUARTE







Cabelos Brancos

Cobrem-me as fontes já cabelos brancos,
Não vou a festas. E não vou, não vou.
Vou para a aldeia, com os meus tamancos,
Cuidar das hortas. E não vou, não vou.

Cabelos brancos, vá, sejamos francos,
Minha inocência quando os encontrou
Era um mistério vê-los: Tive espantos
Quando os achei, menino, em meu avô.

Nem caiu neve, nem vieram gelos:
Com a estranheza ingénua da mudança,
Castanhos remirava os meus cabelos;

E, atento à cor, sem ter outra lembrança,
Ruços cabelos me doía vê-los ...
E fiquei sempre triste de criança.

Afonso Duarte





        De seu nome completo Joaquim Afonso Fernandes Duarte nasceu em Ereira a 1 de janeiro 
de 1884 e faleceu em Coimbra em 5 de março de 1958.
        Singrou na poesia e colaborou nas revistas Águia e Rajada.
        A biblioteca de Montemor-o-Velho ostenta o seu nome.

sábado, 11 de janeiro de 2025

 HOMENAGEM A ADÍLIA LOPES

        Ainda o amo 2024 não tinha terminado e a poesia portuguesa já estava mais pobre.
        De facto, em 30 de dezembro próximo passado morreu Adília Lopes, em Lisboa.






SE TU AMAS

Se tu amas por causa da beleza, então não me ames!
Ama o Sol que tem cabelos doirados!

Se tu amas por causa da juventude, então não me ames!
Ama a Primavera que fica nova todos os anos!

Se tu amas por causa dos tesouros, então não me ames!
Ama a Mulher do Mar: ela tem muitas pérolas claras!

Se tu amas por causa da inteligência, então não me ames!
Ama Isaac Newton: ele escreveu os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural!

Mas se tu amas por causa do amor, então sim, ama-me!
Ama-me sempre: amo-te para sempre!

Adília Lopes





      Para aceder a informação biográfica acerca da autora carregue em Adília Lopes.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

 NOVA ESPERANÇA

FELIZ ANO NOVO 2025







Nova Esperança

Um novo ano começa,
No prazo de validade,
Para cumprir a promessa
De nova oportunidade.

O ser humano reitera,
Até aos confins da terra,
Por aquilo que espera,
Ver chegar o fim da guerra.

Cada ano quer mudança, 
Tenta sempre ser capaz
De viver na esperança
De poder viver em paz.

O tempo é renovado
Ao chegar o novo ano.
Importa ser solidário
Pelo bem que é desejado
Sem correr nenhum engano;
Todos num labor diário,
Em perfeita sintonia,
Verão o seu ideário,
Num esforço pertinaz,
Alcançar a santa paz
Na mais perfeita harmonia.

Juvenal Nunes