sábado, 3 de maio de 2025

 POETAS DE PARABÉNS

LUÍS VEIGA LEITÃO




Dois Epigramas

O sábio das coisas simples
olhou em torno e disse:
não há profundidade
sem superfície

É preciso dizer bom dia
quando o dia anoitece
ser exacto todo o dia
envelhece

Luís Veiga Leitão





        Luís Veiga Leitão é o pseudónimo literário de um poeta português nascido em Moimenta da 
Beira, a 27 de maio de 1912 e falecido em Niterói, Brasil, em 9 de outubro de 1987.
        Foi militante anti-fascista, o que o levou a exilar-se. Como artista plástico dedicou-se ao desenho.


quarta-feira, 23 de abril de 2025

 REVOLUÇÃO






Revolução

O mês de abril foi sereno,
Marcha lenta subtil,
O País num só terreno,
Por razões bem mais que mil,
Teve adesão não servil.

Vestidos numa só farda,
Pelas ruas ocupadas
Não há fogo de espingarda;
Todo o povo de mãos dadas,
Pelos cravos perfimadas,
Assume em serenidade
A hora da Liberdade.

MFA e mais o povo,
Numa nova união,
Assumem algo de novo,
Fazem a revolução
Em prol da mesma nação.

Juvenal Nunes





O 25 de abril de 1974 restituiu a Liberdade ao povo português, cujo regime passou a governar
em Democracia.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

 POEMAS POR TEMAS

LIBERDADE




Liberdade

A liberdade é uma palavra
que o sonho humano alimenta:
não há ninguém que a não diga
nem quem a não sinta.

É como o sol que nos acorda
e nos beija a cada dia:
não há ninguém que o não veja
nem quem o não queria.

É como o mar que nos embala
e nos leva para longe:
não há ninguém que o não ouça
nem quem não o ponha onde.

A sua sede nos aperta
e a sua angústia mais se alonga:
a liberdade é uma palavra
que a esperança prolonga.

Natália Correia






Natália Correia, de seu nome completo Natália de Oliveira Correia, nasceu na Fajã de
           Baixo, ilha de S. Miguel, nos Açores e faleceu em Lisboa a 16 de março de 1993.
Foi uma inflamada poeta tendo deixado uma obra numerosa e valiosa que lhe valeu a
atribuiçãode vários galardões pelo reconhecimento do seu trabalho poético.
      Chegou a ser deputada no Parlamento Português. Foi, também, uma dinamizadora ativa de
várias tertúlias literárias. 

quarta-feira, 9 de abril de 2025

 O PARNASIANISMO

TEÓFILO BRAGA





A DOBADOIRA


Estava à porta assentada,
dobando a sua meada
A velhinha:
Lenço branco na cabeça
A madeixa lhe sustinha,
E envolve-a a como toalha;
Com que pressa
Sentada à porta trabalha.

O sol doira
Seu cabelo,
Que tem a cor da geada;
Para passar o novelo,
A velhinha
De vez em quando sustinha
A gemente dobadoira;
Em que anda branca meada.

Na dobadoira que gira,
Como a mente que delira,
Nem já toda a atenção pondo;
Nem no novelo redondo
Aumentando
Ao passo que o fio tira,
Todo o seu cuidado emprega!
Pobre e cega,
Ansiada, de quando em quando
Com que tristeza suspira!

Por vezes o movimento
Claro exprime
Tumultuar do pensamento,
Que no imo da alma a oprime
E quase oura!
Muita angústia e paciência
Reflete-a a intermitência
Do andamento
Ao voltear da dobadoira.

Fica-lhe na mão suspensa
O novelo,
Concentrada não o enleia;
Na órfã netinha pensa!...
Vem-lhe à ideia
Por sua morte:
"Só, no mundo! Entregue à sorte!
Pobre neta...
Pesadelo,
Que tanto a velhinha inquieta.

Não ouvindo a dobadoira,
Que gemia intermitente,
Caindo da mão dormente
O novelo...
Com desvelo,
A neta, cabeça loira,
Vem à porta
Ver o que foi; com susto olha:
Uma lágrima inda molha
A face à velhinha morta.

 Teófilo Braga 





        
        Teófilo Braga nasceu em Ponta Delgada no dia 24 de fevereiro de 1843 e faleceu em Lisboa
a 28 de janeiro de 1924.
        Além de poeta, atingiu a notoriedade como político tendo sido o 2º Presidente da República Portuguesa.
        Não sendo uma figura de proa do Parnasianismo o seu trabalho também se encontra associado
a este movimento poético-literário.


quarta-feira, 2 de abril de 2025

 POETAS DE PARABÉNS

MANUEL BANDEIRA




Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

– Eu faço versos como quem morre.

Manuel Bandeira






        Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, de seu nome completo, nasceu em Recife aos 
19 de abril de 1886 e faleceu no Rio de Janeiro a 13 de outubro de 1968.
        Consagrou-se como escritor na área da poesia.
        Fez parte da geração do modernismo do Brasil.
        A sua reputação permitiu-lhe ser eleito para a Academia Brasileira de Letras.

domingo, 23 de março de 2025

 

Semana Comemorativa do Dia Mundial da Poesia






Amor e Poesia

A hora da poesia
Passa a qualquer momento,
Mas festeja o seu dia
Do vernal no advento.

Já reverdecem as franças,
Renova-se a natureza,
Desfazem-se as tuas tranças
Cobrindo tua beleza.

Primavera e poesia
Convivem no mesmo elo,
Mantendo a sintonia
Com o amor no mesmo anelo.

E assim no mesmo passo,
Numa aura de magia,
Eu amo no teu abraço
A hora da poesia.

Juvenal Nunes




domingo, 16 de março de 2025

 POEMAS POR TEMAS

JOÃO XAVIER DE MATOS



Tema : Alegria

Que assim Sai a Manhã

Que assim sai a manhã, serena e bela!
Como vem no horizonte o sol raiando!
Já se vão os outeiros divisando,
já no céu se não vê nenhuma estrela.

Como se ouve na rústica janela
do pátrio ninho o rouxinol cantando!
Já lá vai para o monte o gado andando,
já começa o barqueiro a içar a vela.

A pastora acolá, por ver o amante,
com o cântaro vai à fonte fria;
cá vem saindo alegre o caminhante;

Só eu não vejo o rosto da alegria:
que enquanto de outro sol morar distante,
não há-de para mim nascer o dia.

João Xavier de Matos








        João Xavier de Matos é o nome de um poeta português que nasceu em Lisboa, por volta 
da 3ª década do séc. XVIII e faleceu em Vila de Frades, em 3 de novembro de 1789.
        Com o pseudónimo de Albano Eritreu fez parte da Arcádia Portuense.
        Ao estilo de Camões evidenciou-se na poesia bucólica e foi sonetista.