PALAVRAS ALADAS
As palavras são a matéria-prima da arte poética.
O voo da imaginação transforma-as em palavras aladas.
sábado, 16 de novembro de 2024
sábado, 9 de novembro de 2024
POETAS DE PARABÉNS
INÊS LOURENÇO
Português Vulgar
O meu gato deixa-se ficarem casa, farejando o prato
e o caixote das areias. Já não vai
de cauda erguida contestar o domínio
dos pedantes de raça, pelos
quintais que restam. O meu gato
é um português vulgar, um tigre
doméstico dos que sabem caçar ratos e
arreganhar dentes a ordens despóticas. Mas
desistiu de tudo, desde os comícios nocturnos
das traseiras até ao soberano desprezo
pela ração enlatada, pelo mercantilismo
veterinário ou pela subserviência dos cães
vizinhos. Já falei deste gato
noutro poema e da sua genealogia
marinheira, embarcada nas antigas
naus. Se o quiserem descobrir, leiam
esse poema, num livro certamente difícil
de encontrar. E quem procura hoje
livros de poemas? Eu ainda procuro,
nos olhos do meu gato, os
dias maiores de Abril.
Inês Lourenço
Dispersou a sua poesia por diversos jornais e revistas portuguesas, bem como por alguns
Como poeta foi-lhe atribuída a medalha de mérito, pela Câmara Minicipal do Porto, em 9
sábado, 2 de novembro de 2024
POEMAS POR TEMAS
AS FLORES
A Duas Flores
São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo, no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor
Castro Alves
Rapidamente se impôs no mundo das letras, sendo considerado, pelos seus contemporâneos,
Improvisava com facilidade e era um excelente declamador.
sábado, 26 de outubro de 2024
O PARNASIANISMO
JOÃO PENHA
IDEAL
Era a jovem mais bela da cidade,
Nem mais graciosa em toda a Espanha a havia.
Não detestava a dança, e á noite lia
Obras de devoção e de piedade.
Namorado de tanta mocidade,
Disse-lhe, balbuciante, o que sentia.
Branda, aceitou-me a côrte, porque via
Que eu a amava com fé, com lealdade.
Um dia, quis beijá-la à moda antiga,
À pressa, porque a vida é transitória.
Ela, porém, com voz suave e amiga:
– «Nunca!» me disse; é vã, é ilusória
A matéria em que o espírito se abriga:
Quero que me ames, sim, mas... incorpórea.»
João Penha
Colaborou em jornais literários e revistas da época, juntamente com outros intelectuais seus contemporâneos
A sua produção literária marcou uma época a ele se devendo a introdução do Parnasianismo
sábado, 19 de outubro de 2024
POETAS DE PARABÉNS
NATÉRCIA FREIRE
Vibrátil, fina, perfumada e clara
ondula a aragem que o amor provoca.
Longe respira a vida. Aqui o sonho.
Tudo é infância de águas e colinas
Na manhã dos teus olhos.
E vôos de mãos dadas.
E cantos, cantos de infinito amor,
Nos galhos, nas correntes e nas sombras veladas.
Envolve-se de nuvem nosso abraço.
Vibrátil, fina, perfumada e clara
ondula a aragem. Fadas e duendes
agitam instrumentos na folhagem.
Vibrátil, fina, impercetível, fluída
orquestra ao longe. Ao fundo dos sentidos.
Dedos de flores ondeiam sobre a pele
de Céus indefinidos.
Cantam mistérios bocas fascinadas.
Abrem corolas sob a luz que as toca.
Vibrátil, fina, perfumada e clara
ondula a aragem que o amor provoca.
Natércia Freire
Professora primária de profissão tornou-se uma poetisa de qualidade pelo seu inegãvel
sábado, 12 de outubro de 2024
POEMAS POR TEMAS
AS ÁRVORES
As árvores e os livros
Jorge Sousa Braga
quarta-feira, 2 de outubro de 2024
CHEGOU O OUTONO
No sopro do vento
Há triste lamento.
O outono chegou...
Árvores despidas
São almas transidas.
O outono chegou...
Uma fria aragem
Varre a folhagem.
O outono chegou...
Silva a ventania
Agreste e sombria.
O outono chegou
Num lento compasso
De desolação.
Por todo o espaço
A nova estação
Marca o tempo e o passo
Em que a viração,
Num céu mais cinzento,
A todo o momento,
No seu ritual,
Nos diz que afinal
O outono chegou!