sábado, 26 de outubro de 2024

 O PARNASIANISMO

                               O parnasianismo foi um movimento literário, especialmente poético, que se
                    originou em França. Vigorou em Portugal entre 1865 e 1890 e teve em João Penha
                    um dos seus principais cultores.

JOÃO PENHA







IDEAL

Era a jovem mais bela da cidade,
Nem mais graciosa em toda a Espanha a havia.
Não detestava a dança, e á noite lia
Obras de devoção e de piedade.

Namorado de tanta mocidade,
Disse-lhe, balbuciante, o que sentia.
Branda, aceitou-me a côrte, porque via
Que eu a amava com fé, com lealdade.

Um dia, quis beijá-la à moda antiga,
À pressa, porque a vida é transitória.
Ela, porém, com voz suave e amiga:

– «Nunca!» me disse; é vã, é ilusória
A matéria em que o espírito se abriga:
Quero que me ames, sim, mas... incorpórea.»

João Penha







        João Penha de Oliveira Fortuna era o seu nome completo e nasceu em Braga em 29 de 
abril de 1838 tendo falecido na mesma cidade em 3 de fevereiro de 1919.
        Colaborou em jornais literários e revistas da época, juntamente com outros intelectuais seus contemporâneos
        A sua produção literária marcou uma época a ele se devendo a introdução do Parnasianismo 
em Portugal.

sábado, 19 de outubro de 2024

 POETAS DE PARABÉNS

NATÉRCIA FREIRE






Amor

Vibrátil, fina, perfumada e clara
ondula a aragem que o amor provoca.
Longe respira a vida. Aqui o sonho.
Tudo é infância de águas e colinas
Na manhã dos teus olhos.
E vôos de mãos dadas.
E cantos, cantos de infinito amor,
Nos galhos, nas correntes e nas sombras veladas.

Envolve-se de nuvem nosso abraço.
Vibrátil, fina, perfumada e clara
ondula a aragem. Fadas e duendes
agitam instrumentos na folhagem.

Vibrátil, fina, impercetível, fluída
orquestra ao longe. Ao fundo dos sentidos.
Dedos de flores ondeiam sobre a pele
de Céus indefinidos.

Cantam mistérios bocas fascinadas.
Abrem corolas sob a luz que as toca.
Vibrátil, fina, perfumada e clara
ondula a aragem que o amor provoca.

Natércia Freire







        De seu nome completo Natércia Ribeiro Oliveira Freire, nasceu em Benavente, em 28 de 
outubro de 1919 e veio a falecer em Lisboa, em 17 de dezembro de 2004.
        Professora primária de profissão tornou-se uma poetisa de qualidade pelo seu inegãvel 
talento.
        Galardoada ao longo da vida com inúmeros prémios literários recebeu. a título póstumo, no centenário do seu nascimento, o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

sábado, 12 de outubro de 2024

 POEMAS POR TEMAS

AS ÁRVORES




Tema: As Árvores

As árvores e os livros

As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.

Jorge Sousa Braga





        Jorge de Sousa Braga é natural de Cervães, Vila Verde, onde nasceu a 23 de dezembro 
de 1957.
        Médico de profissão, sentiu, a exemplo de muitos profissionais desse ofício, o chamado 
das letras, revelando, desde cedo, a sua vocação poética.
        Poeta dos nossos dias, distingue-se, também, como tradutor.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

 CHEGOU O OUTONO




Chegou o Outono

O outono chegou...
No sopro do vento
Há triste lamento.

O outono chegou...
Árvores despidas
São almas transidas.

O outono chegou...
Uma fria aragem
Varre a folhagem.

O outono chegou...
Silva a ventania
Agreste e sombria.

O outono chegou
Num lento compasso
De desolação.
Por todo o espaço
A nova estação
Marca o tempo e o passo
Em que a viração,
Num céu mais cinzento,
A todo o momento,
No seu ritual,
Nos diz que afinal
O outono chegou!

Juvenal Nunes