sexta-feira, 29 de agosto de 2025

 O SIMBOLISMO

AUGUSTO GIL



             


A MÁSCARA

Por acaso, parou na minha frente,
De loup e dominó de seda negra,
Uma mulher de olhar resplandecente
E mento breve de figura grega.

Tomei-lhe as mãos esguias entre as minhas...

E os seus olhos doirados reluziram
Como os punhais ao sol, quando se tiram,
Aguçados e frios, das bainhas.

— Máscara, quem és tu?

— E tu quem és?...

— Um homem que te viu e te deseja...

E um riso vago, de desdém talvez,
Floriu na sua boca de cereja.

Ergui-lhe as mãos ascéticas. Beijei-as.

Em vibrações entrecortadas, secas,
Tiniam taças irisadas, cheias.
E uma frase de amor, toda em colcheias,
Vibrava nas arcadas das rebecas.

Levei-a para o vão duma janela.
— Máscara, quem és tu?

— Para que insistes?...

Outro riso subiu da boca dela
Aos olhos enigmáticos e tristes.

E descobriu a face. No capuz
Emoldurou-se um rosto lindo e sério.

Que diferente porém do que eu supus!

A gente nunca deve entrar com luz
Nos divinos recantos do mistério...

Augusto Gil






        Augusto Gil nasceu no Porto, Lordelo do Ouro, em 30 de junho de 1870 e faleceu em Lisboa,
em 26 de fevereiro de 1929. Viveu grande parte da sua vida na Guarda, que influenciou muitos
dos seus textos poéticos.
        O seu trabalho literário faz dele um grande influenciador da sua geração.
        A sua maestria poética foi reconhecida com a atribuição do grau de Grande-Oficial da Ordem
Militar de Sant´Iago da Espada, em 14 de fevereiro de 1920.


sexta-feira, 22 de agosto de 2025

 POETAS DE PARABÉNS

ANTÓNIO OSÓRIO





Amar

Amar não deve ser desfortuna.
O cio transfunde
a lagartixa e o homem
na criação tenaz.
E o buxo, o pólen
e as primeiras folhas
da vinha virgem. Amor
não tem quaresma,
nela impetuoso regressa e copula.

António Osório





        António Gabriel Maranca Osório de Castro é o nome completo do poeta António Osório.
Nasceu em Setúbal em 1 de agosto de 1933 e faleceu na mesma cidade, em 18 de novembro
de 2021.  O livro referência da sua obra é Planetário e Zoo dos Homens.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

 POEMAS POR TEMAS

VERÃO




Tema: Verão

As Amoras

O meu país sabe às amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

Eugénio de Andrade






          Eugénio de Andrade nasceu no Fundão em em 19 de janeiro de 1923 e faleceu no Porto 
em 13 de junho de 2005.
        Durante vários anos fui seu vizinho e via-o frequentemente na sua rotina diária.
        Veio viver para o Porto por razões profissionais e nessa cidade se fixou e envolveu. No
Jardim de S. Lázaro gostava de apreciar, na época própria, os jacarandás floridos.
        A sua obra valeu-lhe a atribuição de diversos prémios literários entre os quais o Prémio
Camões.

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

 O SIMBOLISMO

CAMILO PESSANHA





Crepuscular

Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d´ais comprimidos…
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.
As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Têm delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados,
Sentem-se espasmos, agonias d´ave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas…
--Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.
As tuas mãos tão brancas d´anemia…
Os teus olhos tão meigos de tristeza…
-- É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.

Camilo Pessanha







        De seu nome completo Camilo de Almeida Pessanha, nasceu em Coimbra aos 7 de setembro 
de 1867 e veio a falecer em Macau, a 1 de março de 1926.
        Camilo Pessanha representa o expoente máximo do simbolismo em língua portuguesa.
        Alcançou a imortalidade com o livro Clepsidra.
        A 8 de março de 1919 viu o seu talento ser reconhecido com a atribuição do grau de Comendador 
da Ordem Militar de Sant´Iago da Espada.


sábado, 2 de agosto de 2025


Tertúlia do Amor




Bailado do Amor

O amor é sempre um bailado
Que o par enamorado
Dança ao sabor da paixão.
Unidos nessa canção,
À luz do sol ou da lua,
Toda a emoção flutua.

Juvenal Nunes





A convite da amiga Rosélia aqui fica a minha participação ao desafio proposto.