terça-feira, 18 de junho de 2024

 3ª HOMENAGEM AOS SANTOS POPULARES



 

        O mês de junho é o mês dos santos populares.
        Por tal motivo, quero convidar todos os amigos, leitores e autores, que visitam o
        Palavras Aladas, para participarem nesta iniciativa.
        Basta uma quadra para que a colaboração fique concretizada. Tão simples quanto isso.

        Quem quiser participar deverá:


    -- postar o texto no seu blog, antecedido do distintivo pictográfico apresentado.


        Saudações poéticas.

                                                           

            Juvenal Nunes


Participantes

 
1º - Chica - Juninas

2º - Rosélia Bezerra - Santos Populares



sexta-feira, 14 de junho de 2024

 

No Abraço, Sem Palavras - Dueto Amoroso - Poema 2

 


É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.

(Mário Quintana)






No Abraço, Sem Palavras

No calor do teu abraço,
sinto-me afagada na alma,
como num ornado e belo laço,
é bom calor, ele me acalma.

Nossas mãos nos aquecem,
nem é preciso as palavras,
só afagos, ternuras mágicas,
merecemos, o mar sabe bem.

O mundo se tingiu de azul,
céu e mar do Norte ao Sul,
golfinhos celebram, bailam
em sintonia, nos embalam.

Cinge a cintura com força,
acarinha costas com bossa,
entre carícias renovadas,
chega-se às festas amadas.

Rosélia Bezerra


Abraço

Imenso mar da paixão...
Nas vagas bruscas do mar
Surgem ondas de desejo
Crescendo num turbilhão,
Em que busco navegar
Como na água dum beijo.

A tormenta desespera
Nesse constante vaivém
Que não consigo evitar;
Remo na minha galera
Que meu seguro provém
Para poder aportar.

Vejo perto o futuro
No farol do horizonte;
No meu barco sem arrais,
Numa ânsia te procuro,
A sonhar-te ali defronte
À minha espera no cais:

E no correr desse passo
Envolvo-te num abraço.

Juvenal Nunes



Envio os meus parabéns à Rosélia por esta iniciativa e quero torná-los extensivos a todos os participantes aderentes.

terça-feira, 4 de junho de 2024

 POEMAS POR TEMAS

NATUREZA



Tema: Natureza

A fermosura desta fresca serra

A fermosura desta fresca serra,
E a sombra dos verdes castanheiros,
O manso caminhar destes ribeiros,
Donde toda a tristeza se desterra;

O rouco som do mar, a estranha terra,
O esconder do Sol pelos outeiros,
O recolher dos gados derradeiros,
Das nuvens pelo ar a branda guerra;

Enfim, tudo o que a rara natureza
Com tanta variedade nos of’rece,
Me está se não te vejo magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
Sem ti, perpetuamente estou passando
Nas mores alegrias, mor tristeza.

Luís de Camões





        Luís de Camões é natural de Lisboa, cidade onde nasceu no ano de 1524. Viria a 
falecer na mesma cidade em 10 de junho de 1580.
        Viveu uma vida atribulada. Foi soldado e poeta multifacetado.
        A sua obra Os Lusíadas colocou-o  no topo dos maiores poetas portugueses de 
todos os tempos.

terça-feira, 28 de maio de 2024

 O ULTRARROMANTISMO

BULHÃO PATO



CARTA

Quando partiste ainda havia
Um sol como de verão.
Partiste, e logo a invernia
— Triste do meu coração —
Rompeu de cara sombria.

Mar que vias da janela,
Tão sereno e tão azul,
Torvo ao largo se encapela
Com as lufadas do sul,
Dando núncios da procela.

Uma avesita arribada,
Que à tarde poisou aqui,
Soltou um pio magoada;
Como eu as tenho de ti
Teve saudades, coitada!

Saudades… se breve espero
Ver-te, que estás a dois passos?
Sempre a um pai é desespero
Não ter a filha nos braços,
E eu como a filha te quero.

De passagem te direi
Que ontem, descendo o valado,
Com a casa defrontei,
E, vendo tudo fechado,
Por vergonha não chorei.

Quando do alto do casal
Me avistavam da janela,
Que alegria triunfal! …
Eras tu, e a Filomela,
E os lenços num vendaval!

— «Depressa, que o tio espera,
Jantar na mesa, são horas.»
E a tentar cara severa,
E rindo como as auroras
Dos dias da primavera!

Agora vêm da invernia
As cordas d’água puxadas
Na força da ventania,
E essas janelas cerradas,
E eu sem a vossa alegria!…

Já nem sei o que escrevi…
Vou fechar a carta. Adeus!
Guarda um beijo para ti,
Dá-me um abraço nos teus,
Y nó te olvides de mi!

Bulhão Pato





        Raimundo António de Bulhão Pato, de seu nome completo, nasceu em Bilbau por ser filho
 de mãe espanhola, em 3 de março de 1828, vindo a falecer no Monte da Caparica, em 24 
de agosto de 1912.
        Tornou-se conhecido no mundo das letras pela sua contribuição para a poesia ultrarromântica.
        Frequentador de saraus literários, era um bon vivant, tendo-nos deixado a sua famosa receita de Ameijoas à Bulhão Pato.


sábado, 18 de maio de 2024

 ENCONTRO





Encontro

Corro na praia deserta,
Bem junto à beira do mar,
É algo que me desperta
Duma forma salutar.

Vou pelo sopro do vento,
Que propaga a maresia,
Ganho sempre novo alento,
Que me enche de alegria.

No desenrolar das ondas
Vejo emergir sereias,
Peitos de formas redondas
Entoando melopeias..

No fundo do areal,
Sereia feita mulher,
Numa visão mais real
Seu corpo deixa entrever.

Nesse encontro só almejo,
Nessa praia sem ter fim,
Colher tal como desejo
Essa flor do teu jardim.

Juvenal Nunes





sábado, 11 de maio de 2024

 POETAS DE PARABÉNS

MÁRIO BEIRÃO





Aleluia

Se cantas, nasce o dia;
A luz segreda à flor: Ave, Maria!

Tudo é silêncio, espanto,
Quando vaga no Azul o teu encanto...

Passas e deixas no ar
O perfume das rosas de toucar!

Creio em ti, como em Deus;
Viver à tua luz é estar nos Céus!

Verdes enleios de hera
Cingem de amor teu vulto, ó Primavera!

Nos perdidos caminhos,
Voam gorjeios, músicas dos ninhos...

A Terra em névoas de ouro
Ascende a Deus em teu olhar de choro!

Senhora da Harmonia,
Em ti a minha vida principia!

Se voas pela Altura,
Gravas no Azul a tua formosura!

Teu voo é um longo adeus:
O caminho das almas para os Céus...

Longe, saudosa, adejas,
E pairas sobre mim... bendita sejas!

Mário Beirão








        Natural de Beja, onde nasceu em 1 de maio de 1890, Mário Beirão faleceu em Lisboa 
em 19 de fevereiro de 1965.
        Foi contemporâneo e colega de Américo Durão e Florbela Espanca.
        A sua sensibilidade espelha o sentir da alma nostálgica. Hernâni Cidade considera-o, 
depois de Teixeira de Pascoaes, o maior poeta saudosista do seu tempo.

sábado, 4 de maio de 2024

 POEMAS POR TEMAS

DESEJO





Tema: Desejo


No Obscuro Desejo

No obscuro desejo,
no incerto silêncio,
nos vagares repetidos,
na súbita canção

que nasce como a sombra
do dia agonizante,
quando empalidece
o exterior das coisas,

e quando não se sabe
se por dentro adormecem
ou vacilam, e quando
se prefere não chegar

e sabê-lo, a não ser,
pressentindo-as, ainda
um momento, na aresta
indizível do lusco-fusco.

Vasco Graça Moura







        Vasco Graça Moura nasceu no Porto, a 3 de janeiro de 1942 e faleceu em Lisboa, a 27 
de abril de 2014.
        Foi escritor, tradutor e político. Como escritor deixou assinalável obra poética.
        Notabilizou-se, também, por ser um intransigente defensor da língua portuguesa.
        Foi um dos autores da proposta para a realização da Exposição Mundial de 1998, em Lisboa.

sábado, 27 de abril de 2024

 O ULTRARROMANTISMO

JOÃO DE LEMOS



A Lua de Londres

É noite; o astro saudoso
Rompe a custo um plúmbeo céu,
Tolda-lhe o rosto formoso
Alvacento, húmido véu:
Traz perdida a cor de prata,
Nas águas não se retrata,
Não beija no campo a flor,
Não traz cortejo de estrelas,
Não fala d'amor às belas,
Não fala aos homens d'amor.

Meiga lua! os teus segredos
Onde os deixaste ficar?
Deixaste-os nos arvoredos
Das praias d'além do mar?
Foi na terra tua amada,
Nessa terra tão banhada
Por teu límpido clarão?
Foi na terra dos verdores,
Na pátria dos meus amores,
Pátria do meu coração?

Oh! que foi!... deixaste o brilho
Nos montes de Portugal,
Lá onde nasce o tomilho,
Onde há fontes de cristal;
Lá onde viceja a rosa,
Onde a leve mariposa
Se espaneja à luz do sol;
Lá onde Deus concedera
Que em noites de Primavera
Se escutasse o rouxinol.

Tu vens, ó lua, tu deixas
Talvez há pouco o país,
Onde do bosque as madeixas
Já têm um flóreo matiz;
Amaste do ar a doçura,
Do azul céu a formosura,
Das águas o suspirar;
Como hás-de agora entre gelos
Dardejar teus raios belos,
Fumo e névoa aqui amar?

Quem viu as margens do Lima,
Do Mondego os salgueirais,
Quem andou por Tejo acima,
Por cima dos seus cristais,
Quem foi ao meu pátrio Douro,
Sobre fina areia d'ouro,
Raios de prata esparzir,
Não pode amar outra terra
Nem sob o céu d'Inglaterra
Doces sorrisos sorrir.

Das cidades a princesa
Tens aqui; mas Deus, igual
Não quis dar-lhe essa lindeza
Do teu e meu Portugal;
Aqui, a indústria e as artes,
Além, de todas as partes,
A natureza sem véu;
Aqui, oiro e pedrarias,
Ruas mil, mil arcarias,
Além, a terra e o céu!

Vastas serras de tijolo,
Estátuas, praças sem fim
Retalham, cobrem o solo,
Mas não me encantam a mim;
Na minha pátria, uma aldeia,
Por noites de lua cheia,
É tão bela e tão feliz!...
Amo as casinhas da serra,
Co'a lua da minha terra,
Nas terras do meu país.

Eu e tu, casta deidade,
Padecemos igual dor,
Temos a mesma saudade,
Sentimos o mesmo amor:
Em Portugal, o teu rosto,
De riso e luz é composto,
Aqui, triste e sem clarão;
Eu lá, sinto-me contente,
Aqui, lembrança pungente
Faz-me negro o coração.

Eia, pois, ó astro amigo,
Voltemos aos puros céus,
Leva-me, ó lua, contigo
Preso num raio dos teus;
Voltemos ambos, voltemos,
Que nem eu, nem tu podemos
Aqui ser quais Deus nos fez;
Terás brilho, eu terei vida,
Eu já livre, e tu despida
Das nuvens do céu inglês. 

João de Lemos






        João de Lemos Seixas Castelo Branco, de seu nome completo, nasceu no Peso da Régua, 
em 6 de maio de 1819, vindo a falecer na Figueira da Foz em 16 de janeiro de 1890.
        Dramaturgo e jornalista evidenciou-se nas letras como poeta, tendo ficado conhecido por 
o trovador.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

 BEIRA-MAR




Beira-Mar

À beira-mar eu contemplo
Todo o vaivém das marés
Vendo nesse vasto templo,
Com que as ondas inconstantes
De líquidos balancés,
Com recuos e avanços
Inquietam mareantes
Em permanentes balanços.

A maré cheia da vida
Enche a alma de emoção,
A maré vaza contida
Deixa-a em erma solidão.

Batel sem poder vogar
Requer nova condição,
Maré para navegar
Com os ventos de feição.
Levado pela bolina,
É nessa força segura
Que confiante procura
O abrigo da marina.

Juvenal Nunes





quarta-feira, 10 de abril de 2024

 POETAS DE PARABÉNS

ROSA LOBATO DE FARIA






Beijo a Beijo

 

E de novo a armadilha dos abraços.

E de novo o enredo das delícias.

O rouco da garganta, os pés descalços

a pele alucinada de carícias.

As preces, os segredos, as risadas

no altar esplendoroso das ofertas.

De novo beijo a beijo as madrugadas

de novo seio a seio as descobertas.

Alcandorada no teu corpo imenso

teço um colar de gritos e silêncios

a ecoar no som dos precipícios.

E tudo o que me dás eu te devolvo.

E fazemos de novo, sempre novo

o amor total dos deuses e dos bichos.

Rosa Lobato Faria






        Rosa Lobato de Faria nasceu em Lisboa a 20 de abril de 1932 e viria a falecer na mesma 
cidade em 2 de fevereiro de 2010
        Personalidade multifacetada tornou-se conhecida no domínio da escrita quer em poesia 
quer em prosa; foi dramaturga, guionista de novelas e letrista.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

 POEMAS POR TEMAS

A ÁRVORE




Tema: A Árvore


Poema das árvores

As árvores crescem sós. E a sós florescem.

Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.

Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.

Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.

E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.

As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
A crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver a sós
e entretanto, dar flores.

António Gedeão








        António Gedeão é o pseudónimo literário de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, nascido
em Lisboa em 24 de novembro de 1906 e falecido na mesma cidade em 19 de fevereiro de 1007.
        Foi poeta e cientista. Exerceu como professor no ensino secundário.
        Portugal adotou a data do seu nascimento como Dia Nacional da Cultura Científica.

quarta-feira, 27 de março de 2024

 O ULTRARROMANTISMO

SOARES DE PASSOS





Desejo

Oh! quem nos teus braços pudera ditoso
No mundo viver,
Do mundo esquecido no lânguido gozo
D'infindo prazer.

Sentir os teus olhos serenos, em calma,
Falando d'além,
D'além! duma vida que sonha minha alma,
Que a terra não tem.

Eu dera este mundo, com tudo o que encerra
Por tal galardão:
Tesouros, e glórias, os tronos da terra,
Que valem, que são?

A sede que eu tenho não morre apagada
Com tal aridez:
Pudesse eu ganhá-los, e iria seu nada
Depor a teus pés.

E só desejando mais doce vitória,
Dizer-te: eis aqui
Meu ceptro e ciência, tesouros e glória:
Ganhei-os por ti.

A vida, essa mesma daria contente,
Sem pena, sem dor,
Se um dia embalasses, um dia somente,
Meu sonho d'amor.

Isenta do laço que ao mundo nos prende,
A vida que vale?
A vida é só vida se o amor nela acende
Seu doce fanal.

Aos mundos que eu sonho pudesse eu contigo,
Voando, subir;
Depois que importava? depois no jazigo
Sorrira ao cair.

Soares de Passos




        António Augusto Soares de Passos nasceu na cidade do Porto em 27 de novembro de 
1826 tendo falecido na mesma cidade em 8 de fevereiro de 1860. 
         Concluiu o curso de Direito na Universidade de Coimbra tendo exercido como jurista 
até se dedicar exclusivamente à Poesia.
        É considerado figura de proa do Ultrarromantismo português.

domingo, 17 de março de 2024

 DIA MUNDIAL DA POESIA

                                                                                                                      





         Dia Mundial da Poesia

Está perto a primavera
Com vasta policromia
Quem por ela sempre espera
Também acha a Poesia.

Brincam as flores no prado,
Sopram amenas aragens,
Cada par enamorado
Por amor troca mensagens.

Gorjeiam ternas as aves
Em alegre sinfonia;
Tudo quanto se revela,
Por simples modos suaves,
Ultrapassa a fantasia,
Tornando sempre mais bela
A candura dos poetas,
Que revive em poesia
Libertando-os de grilhetas
Na mais completa harmonia.

        Juvenal Nunes







        O Dia Mundial da Poesia foi consagrado pela Unesco no dia 21 de março.
        Esta data coincide, também, com o Dia Mundial da Árvore.
        Portugal, país do hemisfério norte, recebe a primavera, este ano, no dia 20 de março, 
não se dando, portanto, a coincidência das três efemérides.

        Esta minha participação responde à iniciativa lançada pela amiga Rosélia Bezerra.

sábado, 9 de março de 2024

 POETAS DE PARABÉNS

ALEXANDRE HERCULANO





RESIGNAÇÃO

No teu seio, reclinado
Dormirei, Senhor, um dia,
Quando for na terra fria
Meu repouso procurar;

Quando a lousa do sepulcro
Sobre mim tiver caído,
E este espírito afligido
Vir a tua luz brilhar!

No teu seio, de pesares
O existir não se entretece;
Lá eterno o amor florece;
Lá florece eterna paz:

Lá bramir junto ao poeta
Não irão paixões e dores,
Vãos desejos, vãos temores
Do desterro em que ele jaz.

Hora extrema, eu te saúdo!
Salve, ó trevas da jazida,
Donde espera erguer-se à vida
Meu espírito imortal!

Anjo bom, não me abandones
Neste trance dilatado;
Que contrito, resignado,
Me acharás na hora fatal.

E depois... Perdoa, ó anjo,
Ao amor do moribundo,
Que só deixa neste mundo
Pouco pó, muito gemer.

Oh... Depois... Diz à mesquinha
Um segredo de doçura:
Que na pátria o amor se apura,
Que o desterro viu nascer.

Que é o Céu a pátria nossa;
Que é o mundo exílio breve;
Que o morrer é cousa leve;
Que é princípio, não é fim:

Que duas almas que se amaram
Vão lá ter nova existência,
Confundidas numa essência,
A de um novo querubim.

Alexandre Herculano







 De seu nome completo Alexandre Herculano de Carvalho Araújo nasceu em Lisboa, 
em 28 de março de 1810 e faleceu no seu retiro de Santarém, em 13 de setembro de 1877.
        Notabilizou-se como historiador, dramaturgo, jornalista e poeta da era do Romantismo.
        Defendeu a causa liberal, pela qual lutou militarmente tendo participado no Cerco do Porto.
        Acabou por recusar as honrarias que lhe foram concedidas.

sábado, 2 de março de 2024

 POEMAS POR TEMAS

SILÊNCIO




           Tema: Silêncio



O Silêncio

Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.

Eugénio de Andrade







        De seu nome completo José Fontinhas, notabilizou-se nas letras como poeta usando o
 pseudónimo de Eugénio de Andrade.
        Natural da Póvoa da Atalaia, na província da Beira Baixa, escolheu a cidade do Porto 
para viver. Fui seu vizinho durante muitos anos.
        Óscar Lopes considerou-o o grande poeta do amor do séc. XX.
        Os seus poemas são de grande valor estético associado a uma imagética variada.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

 UMA ROSA



Uma Rosa

Quando te dei uma rosa,
Rubra da mais bela cor,
De perfume abundosa
Foi como preito de amor.

Que beleza de esplendor
Na sua cor encarnada
Ofertada em teu louvor
Bem digna de ser usada.

Na sua cor há o lume
Que simboliza a paixão,
Dela se evola o perfume
Que incensa o coração.

O seu perfume se iguala,
Logo ao ser do pé cortada,
Ao perfume que se exala
Da beleza namorada.

A tua pele de cetim,
Tal pétala acetinada,
Faz inveja no jardim
À rosa mais encarnada.

Apaziguar Cupido,
Com a rosa dum jardim,
Torna o amor mais sentido
Pelo odor que é afim
Entre a rosa perfumada
E a mulher adorada.

Juvenal Nunes






sábado, 17 de fevereiro de 2024

 NA CLAREIRA DO BOSQUE

JOÃO BRAGANÇA SANTOS



        Volto a publicitar o llivro Na Clareira do Bosque de João Bragança Santos.
        Como forma de suscitar o interesse de eventuais leitores deixo a ligação para a pré-visualização do livro referido.

        Na Clareira do Bosque

        Um abraço a todos.

        Juvenal Nunes


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

 O ULTRARROMANTISMO


        Esta corrente literária sucede ao Romantismo e manifesta-se entre 1840 e 1860.
        Um dos seus cultores é o poeta algarvio João de Deus.

JOÃO DE DEUS



Amor

Não vês como eu sigo
Teus passos, não vês?
O cão do mendigo
Não é mais amigo
Do dono talvez!

Ao pé de uma fonte
No fundo de um vale,
No alto de um monte
Do vasto horizonte,
Sem ti estou mal!

Sem ti, olho e canso
De olhar, e que vi?
Os olhos que lanço,
Acharem descanso,
Só acham em ti!

Os ventos que empolam
A face do mar,
E as ondas que rolam
Na praia, consolam
Tamanho pesar?

As formas estranhas
De nuvens que vão
Roçando as montanhas
Em ondas tamanhas
Distraem-me? Não!

A pomba que abraça
No ar o seu par,
E a nuvem que passa,
Não tem essa graça
Que tens a andar!

Parece o pezinho,
De lindo que é,
Ligeiro e levinho
O de um passarinho
Voando de pé!

O rosto, há em torno
Da pálida oval,
Daquele contorno
Tão puro, o adorno
Da auréola imortal!

Não sei que luz vaga,
Mas íntima luz,
Que nunca se apaga,
Me inunda, me alaga,
Se os olhos lhe pus!

Eu amo-te, e sigo
Teus passos, bem vês!
O cão do mendigo
Não é mais amigo
Do dono talvez!

João de Deus







        João de Deus nasceu em São Bartoçomeu de Missines em 8 de março de 1830, tendo vindo a falecer aos 11 de janeiro de 1896, em Lisboa. 
        Foi poeta e importante pedaagogo. Nesta qualidade deixou-nos um método de ensino 
da leitura contido na Cartilha Maternal. O seu nome encontra-se associado a diversos 
jardins escolas assentes no seu método de leitura.